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A Marquesa de Marvila

Aqui não se aprende nada... Lêem-se coisas escritas por mim, parvoíces na maioria das vezes mas sempre, sempre verdades absolutas (pelo menos para mim).

Andar de avião.... What?!... A sério?...

Eu sou uma pessoa bastante dada a "cenas", a falta de palavras para descrever ao que sou dada é gritante como podem  ver... Uma das minhas irmãs, psicóloga por sinal, diz quem tenho uma "falhinha", e eu concordo! Acho que é a melhor palavra para me descrever... Ainda por cima porque as minhas "cenas" ou "falhinha", como queiram apesar de me fazerem sofrer também me ajudam a crescer e fazem-me rir, e rir os outros, e também desesperar, neste caso e principalmente, os outros!

Ora que eu, para além da minha querida amiga doença auto-imune, que ainda estou a conhecer e ainda estamos num processo de namoro, com tudo o que isso tem de bom e de mau, também tenho uma cena que se chama medo, pânico, ansiedade, what ever... Aqui a amiga auto-imune diz-me que afinal esta minha "falhinha" pode ser causada por ela, esta querida não deixa nada em mãos alheias e vai daí responsabiliza-se por muita coisa, inclusive os momentos trágico-cómicos do meu medo.

Explicando-me então, eu sou pessoa para em determinada altura da minha vida ter sofrido "ataques de pânico", na verdade foi apenas um mas que deixou mazelas das grandes. Aqui a Marquesa, não é pessoa para se ficar pelo "ai e tal... e coiso... e assim..." e tratou logo de se auto-diagnosticar, que como podem ver aqui, os médicos inspiram-me pouca confiança, e pôr mãos à obra na resolução da coisa... Não resolveu tudo, é certo, que a minha "falhinha" é das grandes mas ajudou-me muito. Já lá vão uns... deixa ver... um, dois, três... 9 anos desde o episódio e ainda tenho momentos hilariantes (e trágicos)!

Bem, uma das consequências deste episódio e consequente mudança de vida foi andar de avião... É! Confesso-vos que nunca foi coisa que eu adorasse, mas nunca deixei de ir, até àquele momento. Ah, que giro é viajar e tal... É mas é se formos até à Costa da Caparica, mais longe que isso num bai dar... E pronto! Como podem ver, viver comigo é divertido e desesperante! Que o diga o Marquês!

Andámos anos, tantos que as miúdas cresceram e perderam a vontade, a falar em ir à Disney... Num fomos... Vai que um dia, as miúdas fartas de ver toda a gente a ir e a vir, e andar de avião e passear e coiso, e elas só tinham ido até Ayamonte, fizeram-nos fazer uma promessa (eu devia estar bêbeda, só isso explica a minha insanidade): Para o ano vamos a Londres!... Yaehhhhhh!!!! Boa!!! Fixe!!! - Esta foi a reacção geral... e a minha primeira reacção também. Até porque eu adoro Londres, seria a 4ª vez que lá iria.

"Oh, meu Deus do Céu... Oh, Buda... Oh, Maomé... Oh, todos os santos e deuses e deusas e santas e tudo e tudo que existe por aí... O que é que eu fui fazer?!?...."

Bem, não se falou mais do tema até Fevereiro, quando me cai no email uma mega promoção da TAP para viagens na Europa... Falei com o Marquês e assim, sem pensar (claro, se tivesse pensado não tinha tirado os pézinhos do chão) reservámos e, pior senhores, pior... pagámos! Nada a fazer... em Setembro lá íamos nós! F***da-s*** onde é que raio estava eu com a cabeça!! Raisparta!!

Liguei à minha querida irmã (a psicóloga, que eu tenho outra): "Gaja, comprei uma viagem para Londres, e agora não sei como é que eu entro no avião... Ajuda-me!", "Oh filha é fácil... Então vais para o aeroporto, fazes o check-in, esperas que chamem para o voo, passas a porta e entras... Há indicações para tudo! Na dúvida perguntas!"... "Cabra! Ainda goza com os desgraçados, pobres e infelizes (eu!)"

Bem, ainda faltava um tempinho para a viagem... Vai daí comecei a preparar-me! A reler o livro "Voar sem medo", recomendo! Descarreguei a aplicação, e fui pondo em prática todos os exercícios que tinha aprendido na terapia. E assim fui levando a vidinha até Setembro...

Chegámos a Setembro, tínhamos que chegar um dia, certo?.... Certo! Eu é que achava que iria passar directamente de Agosto para Outubro! Mas não! Dá-se a véspera do embarque! O Marquês só me dizia: Tu vê lá se não te pões a fazer figuras à frente das miúdas... Olha lá a vergonha!... - Ainda gozava!

Já eu, era ver-me no alto da minha total segurança, a explicar às miúdas, que nunca tinham andado de avião, que não era preciso ter medo, que era o meio de transporte mais seguro do mundo a seguir ao elevador (sim o elevador é mais seguro que um avião e também é um meio de transporte)... E tal e coiso... E eu acredito mesmo nisto! Não vale a pena virem dizer-me que é seguro, e que é mais perigoso andar de carro: Eu sei! Por isso é que eu tenho medo de andar de carro! (Eu avisei que tenho uma "falhinha") Se não o soubesse jamais me poria dentro de um avião e muito menos às minhas filhas!

5 da manhã... acordar!... Comer... Pouco, no meu caso! Que os senhores (entendidos, claro) diziam para não comer muito! Táxi, aeroporto! Os senhores diziam para aproveitar a viagem até ao aeroporto para relaxar... são 10 minutos do nosso Palácio ao aeroporto... E pronto! Check in... Cada vez se tornava mais difícil desistir... E quando dou por mim estou enfiada dentro do avião!... A sorrir, claro! As miúdas estavam nervosas, era a primeira vez, e eu não podia fazer figuras... O Marquês lembrava-me disso a cada segundo, entre olhares, a sorrisos maléficos e ameaçadores. Quando o avião se começa a deslocar na placa, a dirigir-se à pista eu penso: F***da-s**** esta m**rda está a andar... Não há nada a fazer agora! Olha, é ir!...

No meio do meu pensamento, focadíssima, quem sofre deste tipo de "falhinhas" sabe que a malta em momento de pânico está concentradíssima, ainda mais do que o Futre, uma assistente de bordo (não se diz hospedeira, esses são os piolhos e outras bichesas que aproveitam as viagens e sem pagar) vem ter connosco (senhoras e senhores assistentes de bordo, não se aborda uma pessoa em pânico e concentradíssima dentro de um avião sob pena de haver uma paragem cardíaca súbita) e diz que o senhor comandante está a convidar as nossas meninas para assistirem à descolagem no cockpit (temos um amigo comandante que fez a graça de fazer este pedido ao colega sem nos avisar). E lá foram elas, assistir à descolagem no cockpit.

E lá fiquei eu, sentada ao lado de um estranho (sim eram filas de 3 bancos, eu fiquei com uma das miúdas e um estranho e o Marquês com outra das miúdas e um estranho), pelo menos já podia fazer figuras à vontade que as miúdas não estavam a ver... Aquela cena (vulgo, avião) pára, começa a fazer aquele barulho ensurdecedor (que todos os aviões fazem quando se preparam para levantar voo... Diz que é uma cena que vai contra a lei da gravidade e por isso há que dar potência máxima senão aquela porra não sai do chão), treme por todos os lados (não sei se o avião ou eu), e desata numa corrida desenfreada por ali fora até tirar as rodinhas do chão! - Fónix, F**da-s***,  m***rda, raisparta, para quê que eu me fui meter nisto?!... Na Costa da Caparica também se está bem, está calorzinho e com jeitinho também podemos falar inglês...

E pronto, como acontece sempre, sempre, sempre (eu já devia saber disso, mas a minha "falhinha" tolda-me todo o pouco bom senso que me habita) assim que aquilo começa a voar passa-me o medo e quase, quase me passam os nervos. Depois dá-se um reset, e volta tudo de novo...

A semana em Londres foi espectacular, fui novamente atropelada (sem gravidade) naquela cidade maravilhosa, já é um clássico. Neste momento a minha "falhinha" já devia ter absorvido que é mais perigoso atravessar ruas em Londres do que andar de avião. Divertimo-nos muito, andámos comó caraças, comemos M&M's como se não houvesse amanhã... Mas havia!! Havia e era preciso voltar para Lisboa... De avião, claro está!... Sim, o meu cérebro já tinha feito reset, como aliás faz imediatamente após a máquina voadora pousar as rodinhas no chão, e volta tudo de novo.

E lá fomos nós... aeroporto... ameaças do senhor Marquês... nós sentados à espera que a fila para entrar no avião diminuísse (não entendo porquê é que havendo lugares marcados a malta fica em pé em filas intermináveis para entrar no avião), que quanto menos tempo lá estivesse dentro melhor... Mas eis senão quando, um funcionário do aeroporto nos topa e nos chama para passarmos à frente de todos (acho que por termos crianças)... Fixe, porreiro! Não me apetece explicar ao senhor, e às minhas filhas, que não quero entrar já!.. O Marquês sorri! Raisparta! A senhora que verifica os cartões de embarque, olha para o ecrã que tem à sua frente, fala com a colega e rasga os nossos cartões... What?!!?.... É que era só o que nos faltava!! Ainda por cima fá-lo em silêncio absoluto e com uma cara sem expressão... E eu já a imaginar (vocês não sonham no que uma mente com "falhinha" é capaz de imaginar) a polícia a levar-nos, a sermos arrastados, suspeitos de terrorismo... Mas ela dá-nos com um sorriso uns novos cartões de embarque, sem polícia!

Entramos no avião, quase os primeiros! Yeahhh!... Só que não! E com um sorriso rasgado encaminham-nos para a classe executiva!... Tá-se!! Mais uma graçola do nosso amigo comandante! E assim fizemos a viagem de regresso à grande! É certo que se o avião cair morremos todos na mesma, mas ao menos bebemos vinho em copos de vidro e comemos muito bem (Uma das melhores laranjas que comi na vida, by the way)!

E pronto, o meu cérebro entretanto já fez reset e quando for a próxima viagem recomeça tudo! Pelo menos é animada a minha vida!

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