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A Marquesa de Marvila

Aqui não se aprende nada... Lêem-se coisas escritas por mim, parvoíces na maioria das vezes mas sempre, sempre verdades absolutas (pelo menos para mim).

Como assim anestesia geral?!?...

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Alerta vermelho!!! Mayday, mayday!!!

Ontem, neste meu périplo pela saúde, entre médicos, hospitais e exames, ó caraças, fui a uma consulta de gastro, pedida pelo meu parceiro de crime, Dr. reumatologista... Ainda ponderei adiar, mas a próxima vaga era para Maio e eu pensei: "Deixa-te de merdas cenas e vai lá masé à consulta!", e fui toda lampeira, toda segura de mim, a transbordar confiança.

Mais valia ter ficado quieta e ter esperado por Maio a ver se a coisa se dava de outra forma... Mas não! Lá fui, feliz e contente... Ora toma lá masé mais análises para fazer, "fixe! Venham elas que eu já estou pró", oh a confiança, estão a ver?... duas ecografias, "Ah, pinners (como diria o outro)"... e uma endoscopia!!!... Pronto... Pernas bambas, música do Bonga a soar em fundo (podem pôr aí no youtube para dar mais drama ao texto)... E a médica olha para mim no momento em que eu pergunto (já com a confiança nos pés), "mas diz que esse é um exame f***d**d** chato", e ela diz-me consoladora "não! Não custa nada! Vai levar anestesia geral e nem sente nada..." Este foi o momento em que desmaiei (mentira! Mas é para ter mais drama!).

Como assim anestesia geral?!?... Aquela cena que põe uma pessoa a dormir involuntariamente e com um acordar do demo?!?... Isto se puder dar graças a Deus por ter acordado, que é sabido que há malta que se recusa a acordar.... E pronto, baixou em mim, não a hipocondríaca mas a mariquinhas! Há que dizê-lo com toda a frontalidade e sem medos: Eu sou uma mariquinhas! E vai daí estou cheiinha de miaúfa com a anestesia geral... Já levei duas vezes, em cenas sempre ligeiras de pouco tempo, tal como esta será, e não gostei, meus amigos, não gostei! Gosto muito pouco de cenas que me alterem a consciência, só por isso é que não enveredei pelo mundo da droga. Isso e medo de agulhas, vá! E medo de morrer, também! Diz que é cena que faz mal à saudinha e para isso já basto eu!

Eu sou pessoa para ficar a bater mal com um valium na veia... (Um dia em que fui às urgências com uma cena na coluna em que não me mexia...) E aquilo não foi bom, nada bom! Pesadelos, agitação nocturna e o catano!

E pronto, meus amigos aqui a vossa marquesa favorita vai fazer um exame dos infernos (eu sei que muita gente já fez, conheço quilos de gente que já fez, e sobreviveu...), com uma anestesia geral... é só daqui a 15 dias, mas já vos estou a avisar! Tenham paciência comigo nos próximos tempos, eu estou sensível!!

E vocês, como foram as vossas experiências no mundo das endoscopias e anestesias gerais? Não me enviem histórias com drama, sangue, mortos e feridos, por favor! Só coisas bonitas como unicórnios e sonhos côr-de-rosa, please.

Desabafo

Ter uma doença crónica é fodido! Sim, escrito com as letras todas que já estou fartinha de andar de sorriso nos lábios a dizer. "Ah e tal... Não é nada! Antes isto do que outra doença qualquer..." O camandro (adoro esta palavra) é o que é!... Tenho de perder esta mania de estar a consolar os outros por causa de uma doença que eu tenho!

 

Pois eu tenho uma doença crónica, autoimune, que me deixa a vida num frangalho! Há dias que só me apetece chorar, são poucos mas hoje é um desses dias, mas nem isso posso pois o raio da doença seca-me as lágrimas e impossibilita-me de chorar! Porra! Vocês, criaturas que têm lágrimas, por favor chorem à vontade sempre que vos apetecer, é uma bênção! E não, chorar sem lágrimas não é a mesma coisa, e não, não alivia a alma da mesma maneira, que eu já tive lágrimas em tempos e sei do que falo!

 

Eu não quero, recuso-me a ser a pessoa que é doente e não quero que a doença me caracterize. Mas, porra! Há dias em que esta merda é tramada! É uma doença que não se vê, o que me torna perfeitamente saudável aos olhos dos outros... "Mas tu nem estás coxa; nem deformada; nem a arfar com falta de ar; nem azul; nem com mau aspecto; nem sequer ranhosa (isso é difícil que o ranho também se me vai para parte incerta tal como as lágrimas); Portanto se não tens nada destas cenas que os doentes têm, estás óptima! Vá, anda lá dar uma volta, apanhar ar que isso passa-te!" Não pessoas amigas, não passa!

 

Dói tudo, estar em pé é um tormento, horas a pé acordada é um suplício, fazer trabalhos braçais como: pegar na mala, aspirar, limpar o pó, estar a escrever ao computador horas a fio, estar sentada muito tempo, estar deitada muito tempo... Tudo isto dói! Dói o corpo, custa a mexer as articulações... Dormir também custa.

 

Então e no frio? Sim, o Inverno vem aí... Ainda dói mais! E o vento? Seca-me tudo: Os olhos, a boca, o nariz... Ahhh... Então fixe, fixe é o Verão? Não posso apanhar sol! E o que eu gosto do calor, senhores! O frio dá cabo de mim... Mas não poder apanhar solinho... E nem sequer poder chorar por tamanha desgraça...

 

Portantos, diz-se assim, isto é uma merda! "Ah!! Mas não estás a morrer", pois não! Mas é como às vezes me sinto, a incapacidade de ter uma vida normal e ainda por cima sempre, ou quase sempre, incompreendida, pode matar! 

 

Gosto muito de aligeirar a doença que resolveu instalar-se na minha pessoa, como me sinto, o que implica (não vos estou a contar tudo, talvez um dia). Como já disse não quero que ela me defina, mas é muito limitadora e incapacitante. Mas falando um pouco a sério, nós, seres humanos, só valorizamos o que vemos, o que é palpável, as doenças que se vêem, que modificam físicamente as pessoas, as outras, que não se vêem mas que, de uma forma ou de outra também podem matar, são completamente desvalorizadas e as pessoas não só são votadas ao esquecimento como doentes que estão, como também lhes é exigido que se comportem como saudáveis.

 

Esta minha condição foi diagnosticada há muito pouco tempo, eu até há 3 meses era apenas preguiçosa e hipocondríaca. Desde aí passei a ter uma doença crónica, autoimune o que significa que o organismo se destrói a ele próprio.

 

A partir desta data passei a olhar para toda a gente, principalmente os desconhecidos, com outros olhos, nós efectivamente não sonhamos com o que se passa nas suas vidas. Imaginem a seguinte cena: Metro, ou autocarro cheio, hora de ponta, pessoas exaustas a irem e virem do trabalho e eu sentada, sem me levantar para dar lugar aos mais velhos, grávidas, etc... Parece feio, muito feio! Afinal eu só tenho 44 anos (e dizem que nem se notam - esta parte é boa!), não estou coxa, não tenho ar de doente, não estou grávida e não tenho uma criança ao colo... Mas não consigo estar em pé, em equilíbrio a ser esborrachada... Se não tiver lugar para me sentar piora tudo, jamais em tempo algum alguém me cederia o lugar... É f***d*do! 

A parte boa? É que estou viva e a fazer de tudo para relativizar e arranjar ferramentas (que partilharei convosco) para ultrapassar os sintomas e ter uma vida normal.