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A Marquesa de Marvila

Aqui não se aprende nada... Lêem-se coisas escritas por mim, parvoíces na maioria das vezes mas sempre, sempre verdades absolutas (pelo menos para mim).

Quantas gramas?... Quantos gramas?

Da série coisas que me fazem comichão, me arrepiam os cabelos e me fazem suar do bigode....

As gramas... 

A grama é a relva, ou a 3ª pessoa do singular do verbo gramar...

Quando nos referimos a peso é:
O grama... Ou seja:

- Sr. António quero duzentos gramas de queijo, por favor.

e não duzentas gramas, como muitas, demasiadas, pessoas apregoam por aí.


Pior que isto é ouvir de uma professora primária:
- O meu João nasceu com três quilos, trezentas e cinquenta e duas... 
- Oi?!?!.... Não, criatura!! O teu filho, no limite nasceu com três quilos, trezentos e cinquenta e dois gramas. E já deve ter perdido uns valentes gramas quando te ouviu dizer isso.

Sim, é a Marquesa e o seu mau feitio do dia!

Andar de avião.... What?!... A sério?...

Eu sou uma pessoa bastante dada a "cenas", a falta de palavras para descrever ao que sou dada é gritante como podem  ver... Uma das minhas irmãs, psicóloga por sinal, diz quem tenho uma "falhinha", e eu concordo! Acho que é a melhor palavra para me descrever... Ainda por cima porque as minhas "cenas" ou "falhinha", como queiram apesar de me fazerem sofrer também me ajudam a crescer e fazem-me rir, e rir os outros, e também desesperar, neste caso e principalmente, os outros!

Ora que eu, para além da minha querida amiga doença auto-imune, que ainda estou a conhecer e ainda estamos num processo de namoro, com tudo o que isso tem de bom e de mau, também tenho uma cena que se chama medo, pânico, ansiedade, what ever... Aqui a amiga auto-imune diz-me que afinal esta minha "falhinha" pode ser causada por ela, esta querida não deixa nada em mãos alheias e vai daí responsabiliza-se por muita coisa, inclusive os momentos trágico-cómicos do meu medo.

Explicando-me então, eu sou pessoa para em determinada altura da minha vida ter sofrido "ataques de pânico", na verdade foi apenas um mas que deixou mazelas das grandes. Aqui a Marquesa, não é pessoa para se ficar pelo "ai e tal... e coiso... e assim..." e tratou logo de se auto-diagnosticar, que como podem ver aqui, os médicos inspiram-me pouca confiança, e pôr mãos à obra na resolução da coisa... Não resolveu tudo, é certo, que a minha "falhinha" é das grandes mas ajudou-me muito. Já lá vão uns... deixa ver... um, dois, três... 9 anos desde o episódio e ainda tenho momentos hilariantes (e trágicos)!

Bem, uma das consequências deste episódio e consequente mudança de vida foi andar de avião... É! Confesso-vos que nunca foi coisa que eu adorasse, mas nunca deixei de ir, até àquele momento. Ah, que giro é viajar e tal... É mas é se formos até à Costa da Caparica, mais longe que isso num bai dar... E pronto! Como podem ver, viver comigo é divertido e desesperante! Que o diga o Marquês!

Andámos anos, tantos que as miúdas cresceram e perderam a vontade, a falar em ir à Disney... Num fomos... Vai que um dia, as miúdas fartas de ver toda a gente a ir e a vir, e andar de avião e passear e coiso, e elas só tinham ido até Ayamonte, fizeram-nos fazer uma promessa (eu devia estar bêbeda, só isso explica a minha insanidade): Para o ano vamos a Londres!... Yaehhhhhh!!!! Boa!!! Fixe!!! - Esta foi a reacção geral... e a minha primeira reacção também. Até porque eu adoro Londres, seria a 4ª vez que lá iria.

"Oh, meu Deus do Céu... Oh, Buda... Oh, Maomé... Oh, todos os santos e deuses e deusas e santas e tudo e tudo que existe por aí... O que é que eu fui fazer?!?...."

Bem, não se falou mais do tema até Fevereiro, quando me cai no email uma mega promoção da TAP para viagens na Europa... Falei com o Marquês e assim, sem pensar (claro, se tivesse pensado não tinha tirado os pézinhos do chão) reservámos e, pior senhores, pior... pagámos! Nada a fazer... em Setembro lá íamos nós! F***da-s*** onde é que raio estava eu com a cabeça!! Raisparta!!

Liguei à minha querida irmã (a psicóloga, que eu tenho outra): "Gaja, comprei uma viagem para Londres, e agora não sei como é que eu entro no avião... Ajuda-me!", "Oh filha é fácil... Então vais para o aeroporto, fazes o check-in, esperas que chamem para o voo, passas a porta e entras... Há indicações para tudo! Na dúvida perguntas!"... "Cabra! Ainda goza com os desgraçados, pobres e infelizes (eu!)"

Bem, ainda faltava um tempinho para a viagem... Vai daí comecei a preparar-me! A reler o livro "Voar sem medo", recomendo! Descarreguei a aplicação, e fui pondo em prática todos os exercícios que tinha aprendido na terapia. E assim fui levando a vidinha até Setembro...

Chegámos a Setembro, tínhamos que chegar um dia, certo?.... Certo! Eu é que achava que iria passar directamente de Agosto para Outubro! Mas não! Dá-se a véspera do embarque! O Marquês só me dizia: Tu vê lá se não te pões a fazer figuras à frente das miúdas... Olha lá a vergonha!... - Ainda gozava!

Já eu, era ver-me no alto da minha total segurança, a explicar às miúdas, que nunca tinham andado de avião, que não era preciso ter medo, que era o meio de transporte mais seguro do mundo a seguir ao elevador (sim o elevador é mais seguro que um avião e também é um meio de transporte)... E tal e coiso... E eu acredito mesmo nisto! Não vale a pena virem dizer-me que é seguro, e que é mais perigoso andar de carro: Eu sei! Por isso é que eu tenho medo de andar de carro! (Eu avisei que tenho uma "falhinha") Se não o soubesse jamais me poria dentro de um avião e muito menos às minhas filhas!

5 da manhã... acordar!... Comer... Pouco, no meu caso! Que os senhores (entendidos, claro) diziam para não comer muito! Táxi, aeroporto! Os senhores diziam para aproveitar a viagem até ao aeroporto para relaxar... são 10 minutos do nosso Palácio ao aeroporto... E pronto! Check in... Cada vez se tornava mais difícil desistir... E quando dou por mim estou enfiada dentro do avião!... A sorrir, claro! As miúdas estavam nervosas, era a primeira vez, e eu não podia fazer figuras... O Marquês lembrava-me disso a cada segundo, entre olhares, a sorrisos maléficos e ameaçadores. Quando o avião se começa a deslocar na placa, a dirigir-se à pista eu penso: F***da-s**** esta m**rda está a andar... Não há nada a fazer agora! Olha, é ir!...

No meio do meu pensamento, focadíssima, quem sofre deste tipo de "falhinhas" sabe que a malta em momento de pânico está concentradíssima, ainda mais do que o Futre, uma assistente de bordo (não se diz hospedeira, esses são os piolhos e outras bichesas que aproveitam as viagens e sem pagar) vem ter connosco (senhoras e senhores assistentes de bordo, não se aborda uma pessoa em pânico e concentradíssima dentro de um avião sob pena de haver uma paragem cardíaca súbita) e diz que o senhor comandante está a convidar as nossas meninas para assistirem à descolagem no cockpit (temos um amigo comandante que fez a graça de fazer este pedido ao colega sem nos avisar). E lá foram elas, assistir à descolagem no cockpit.

E lá fiquei eu, sentada ao lado de um estranho (sim eram filas de 3 bancos, eu fiquei com uma das miúdas e um estranho e o Marquês com outra das miúdas e um estranho), pelo menos já podia fazer figuras à vontade que as miúdas não estavam a ver... Aquela cena (vulgo, avião) pára, começa a fazer aquele barulho ensurdecedor (que todos os aviões fazem quando se preparam para levantar voo... Diz que é uma cena que vai contra a lei da gravidade e por isso há que dar potência máxima senão aquela porra não sai do chão), treme por todos os lados (não sei se o avião ou eu), e desata numa corrida desenfreada por ali fora até tirar as rodinhas do chão! - Fónix, F**da-s***,  m***rda, raisparta, para quê que eu me fui meter nisto?!... Na Costa da Caparica também se está bem, está calorzinho e com jeitinho também podemos falar inglês...

E pronto, como acontece sempre, sempre, sempre (eu já devia saber disso, mas a minha "falhinha" tolda-me todo o pouco bom senso que me habita) assim que aquilo começa a voar passa-me o medo e quase, quase me passam os nervos. Depois dá-se um reset, e volta tudo de novo...

A semana em Londres foi espectacular, fui novamente atropelada (sem gravidade) naquela cidade maravilhosa, já é um clássico. Neste momento a minha "falhinha" já devia ter absorvido que é mais perigoso atravessar ruas em Londres do que andar de avião. Divertimo-nos muito, andámos comó caraças, comemos M&M's como se não houvesse amanhã... Mas havia!! Havia e era preciso voltar para Lisboa... De avião, claro está!... Sim, o meu cérebro já tinha feito reset, como aliás faz imediatamente após a máquina voadora pousar as rodinhas no chão, e volta tudo de novo.

E lá fomos nós... aeroporto... ameaças do senhor Marquês... nós sentados à espera que a fila para entrar no avião diminuísse (não entendo porquê é que havendo lugares marcados a malta fica em pé em filas intermináveis para entrar no avião), que quanto menos tempo lá estivesse dentro melhor... Mas eis senão quando, um funcionário do aeroporto nos topa e nos chama para passarmos à frente de todos (acho que por termos crianças)... Fixe, porreiro! Não me apetece explicar ao senhor, e às minhas filhas, que não quero entrar já!.. O Marquês sorri! Raisparta! A senhora que verifica os cartões de embarque, olha para o ecrã que tem à sua frente, fala com a colega e rasga os nossos cartões... What?!!?.... É que era só o que nos faltava!! Ainda por cima fá-lo em silêncio absoluto e com uma cara sem expressão... E eu já a imaginar (vocês não sonham no que uma mente com "falhinha" é capaz de imaginar) a polícia a levar-nos, a sermos arrastados, suspeitos de terrorismo... Mas ela dá-nos com um sorriso uns novos cartões de embarque, sem polícia!

Entramos no avião, quase os primeiros! Yeahhh!... Só que não! E com um sorriso rasgado encaminham-nos para a classe executiva!... Tá-se!! Mais uma graçola do nosso amigo comandante! E assim fizemos a viagem de regresso à grande! É certo que se o avião cair morremos todos na mesma, mas ao menos bebemos vinho em copos de vidro e comemos muito bem (Uma das melhores laranjas que comi na vida, by the way)!

E pronto, o meu cérebro entretanto já fez reset e quando for a próxima viagem recomeça tudo! Pelo menos é animada a minha vida!

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Olhá castanha assada... ou não...

Estou profundamente aborrecida... Há coisas que me deixam de rastos... Há notícias que não devíamos ler... Dramas aos quais deveríamos ser poupados... Mas não!!! Sem dó nem piedade os jornalistas lançam as notícias sem pensarem na hecatombe que podem causar em casa alheia, em pessoas alheias, sei lá, em tudo o que lhes seja alheio...

Como vou eu enfrentar o Outono e a chegada do Inverno, senhores, como?!?!... Com tamanha desgraça a abater-se sobre esta pessoa que vos escreve...

Ah, esperem... Ainda não vos disse sobre o que estou a escrever... Nem sei como vos dizer isto de forma meiga e suave, para que não sofram como eu sofro, para que não sintam que vos deram com uma tábua com ferros na cabeça a uma velocidade descontrolada de muitos quilómetros hora...

Olhem porra, que se lixe, não há forma de dizer isto sem que se abata sobre o mundo uma nuvem de tristeza e lágrimas, cá vai... Sentem-se e preparem-se...

As castanhas este ano não prestam!!!

Não sou eu quem o diz que ainda não as provei... com este calor ainda não apetece... Que eu sou maluca por castanhas mas a seu tempo... no Verão é gelados no Outono são castanhas, no Inverno vai tudo mesmo que é para ver se passa rápido... Ah!! Mas voltemos, quem o diz são "eles"... Os entendidos das castanhas, que é como quem diz os produtores, os vendedores e afins... (não sei quem pertence à classe "afins" mas é para o caso de não ter referido quem é realmente importante, este se possa encaixar nalgum lado...)

Diz que pela falta de chuva as castanhas estão secas e com bicho... que em 20 quilos das ditas se aproveitam 6.... ahhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!.... Sacrilégio!!!!

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Aiiiiiiiiiii.... Senhores.... o que faço eu à minha vida sem a castanha assada no forno posteriormente barrada com manteiga.... Como?... Digam-me como vou eu (sobre)viver a tamanho drama? E ir à baixa ver as luzes de Natal (sim, sou maluca, eu sei! Vou lá todos os anos desde que me lembro de mim... sou quase perita em luzes de Natal da baixa) sem comer castanhas?!?!... 

Não sei o que faça à minha vidinha... Acho que vou ali deitar-me e chorar até Maio (sim, para mim a Primavera começa lá para Maio, antes disso é o São Pedro a reinar ao Verão/Inverno)... E só me podem arrancar da cama com um pacotinho de castanhas quentinhas e boas, bale?

Escola particular? Escola pública?

Como já vos disse tenho duas filhas, uma com quase 12 e outra com quase 14.

Até este ano ambas andaram numa escola particular. Nunca quis uma escola elitista, virada para rankings (odeio rankings), procurei sempre uma escola virada para a pessoa e não para os números, onde não houvesse super-protecção, onde houvesse lugar à diferença e essencialmente onde fossem felizes. Posto isto, a maioria dos colégios que visitámos foram colocados de parte.

 

E porquê uma escola particular e não pública? Porque tanto eu como o senhor marquês achámos que seria o melhor para elas (aquilo que todos os pais consideram estar a fazer sempre que tomam decisões em relação aos filhos, certo?). Ahhhh... Mas o que é isso do "melhor para elas"?

 

Pois, o melhor para elas, achávamos nós, era um lugar onde se sentissem felizes, onde fossem respeitadas, onde elas e nós as sentíssemos seguras. E assim foi, encontrámos a escola que as acolheu, e bem. A escola, particular reitero, tem um espaço exterior fantástico, com hortas, árvores, quinta, gatos e cães. As miúdas vinham imundas para casa, depois de terem trepado árvores e escavado a terra, mas felizes. Todos conhecem todos naquela escola, elas estavam bem e nós também. E assim se passaram 9 anos... A aspirante mais nova frequentou aquela escola desde os 3 anos, ainda tinha 2 quando entrou. A aspirante mais velha continua por lá, por mais um ano.

 

A meio do ano passado tomámos uma decisão, mudá-la de escola. Decidimos que ela iria para uma escola pública. Porquê? Porque a mini aspirante ao título de marquesa é atleta de competição e estando numa escola particular não tinha tempo para se coçar. Entrava às 9h e saía às 16:30h, sempre com aulas e actividades, todos os dias. Era chegar a casa mudar de roupa e ir para o treino, todos os dias. Não estudava, não brincava, não descansava... nada. Parecia o Speedy Gonzalez (aos mais novos, ide ao Google que ele diz-vos quem é esta personagem). Achámos que na escola pública teria mais tempo, o horário não é tão preenchido e poderia, com mais facilidade, conjugar os treinos com a escola (sim, neste país não existe a hipótese de ensino integrado com o desporto e sempre que há campeonatos e deslocações temos de contar com a boa vontade da escola e dos professores).

 

E assim foi, cheios de medo, e após termos conversado com ela e ela ter concordado com a mudança (apesar de triste, e também com medo, por deixar os colegas de sempre), lá tratámos da mudança. Em Setembro começou as aulas na escola nova. Os nervos eram mais do que muitos, mais os nossos do que os dela (apesar de ela também estar com eles ao rubro). Adorou a escola nova! Os colegas, os professores, as instalações, tudo!

 

É um mundo inteiramente novo para ela, uma escola enorme (muitas vezes a antiga escola), muitos alunos (muitas vezes o número de alunos da antiga escola), onde muito pouca gente a conhece, um ritmo diferente, regras diferentes... Mas ela está a adorar e nós também!

Com o início do ano lectivo, deparamo-nos com notícias de escolas sem professores (conheço um caso de uma criança que ainda não tem professor de português... Como é que é possível?!?!... Estamos no final de Outubro)... Eu não conheço a dinâmica das escolas públicas, a história dos concursos para professores e pessoal, não sei que autonomia têm as escolas... Mas espanta-me que, por exemplo, na escola nova da minha filha ela tenha todos os professores desde o primeiro dia. De não ter, até agora, "furos". De haver uma comunicação rápida e eficaz, através de e-mail por exemplo, com a directora de turma. A escola funciona muito bem. Não há espaços vandalizados, materiais partidos, há funcionários em todo o lado. Arrisco dizer que esta escola pública é muito melhor do que a antiga escola particular dela. E se o que nós queremos para ela é a felicidade, ela está muito mais feliz nesta escola.

 

 

Porquê que não é assim em todas as escolas? O que se passa na escola pública para que existam histórias (infelizmente muitas) de alunos sem professores, escolas sem funcionários? Eu nunca entendi esta questão da colocação de professores, e agora ainda entendo menos. Conhecendo a realidade desta escola, e sei que não será a única, porquê que há escolas onde acontece precisamente o contrário? Haverá por aí alguém que me saiba responder a estas questões?

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Médicos... e um longo caminho a percorrer...

Médicos... médicos... Não querendo generalizar, até porque conheço médicos fantásticos, infelizmente sempre ao nível das relações pessoais e muito poucos ao nível das relações profissionais, são seres que nós, pessoas em geral e sociedade em particular (ou ao contrário, como queiram), tendemos a endeusar. Falo por mim, eu sei que eles são pessoas, mas também são médicos e os médicos sabem tudo... ou não! 

 

Eu andei anos, sim, anos a queixar-me aos médicos... Até que comecei a ter vergonha de me queixar... "Se calhar és só hipocondríaca! Se o Sr. Doutor diz que não tens nada é porque não tens. Vai lá masé para casa sugadita e deixa os senhores doutores trabalharem que têm muito que fazer." E pronto assim se foram passando os anos. Ia ao médico fazer as análises de rotina, os exames normais e deixei de me queixar, afinal o diagnóstico era sempre o mesmo: "Stress, ansiedade, falta de exercício físico, blá, blá, blá..." que é como quem diz: "Ó maluquinha desampara a loja, toma um xanax que isso passa", logo eu que "adoro" comprimidos e medicamentos (só que não!).

 

Certo dia, lá pelo longínquo ano de... ora deixa lá fazer as contas, 2012 prái, numas análises de rotina descobriram uma cena... Uma cena que podia ser cancro. Uns indicadores malucos, qualquer coisa relacionada com proteína (como vêem eu não sou hipocondríaca, apesar de ter andado anos a julgar que sim, não faço porra de ideia o que são e como se chamam as doenças, os exames, etc e tal) e lá andei eu, exames, análises, oncologista (eu cheiinha de miaúfa, pois claro) e nada! Tudo inconclusivo. "E queixas tem?", "Para além das habituais, nada de novo", "Humm... então venha cá daqui a uns meses para fazermos novos exames". Não meti lá mais os pézinhos (típico de um hipocondríaco mas ao contrário, como vêem).

 

Vai que este ano o meu médico foi substituído e lá vou eu à nova médica que, graças aos santos, anjos e todas as forças que existem e não existem, não olhou para trás, nem deitou um olhinho ao processo e fez-me uma consulta como se eu nunca tivesse ido ao médico. E eu, a medo, confesso, lá ia dizendo "Ah! Esqueci-me mas também me dói um bocadinho as articulações das mãos e joelhos"... "E também sinto dormência nos dedos"... E ela perguntava coisas e eu "Ah... Acho que sim, também sinto isso!..." Sempre com muito medo, não queria ouvir de novo o diagnóstico tão meu conhecido: stress, ansiedade, falta de exercício físico... Que é como quem diz: maluquinha!

Mas não, desta vez o diagnóstico não foi esse. Mandou-me ao reumatologista que, após exames, após ver o resultado das análises antigas, as tais da proteína, disse que essas análises eram indicativas do que eu tinha, algo que nunca foi investigado e cujos sintomas foram sempre e sucessivamente desvalorizados.

 

Não é fácil receber um diagnóstico de doença crónica, saber que vou viver toda a vida com ela e com estes sintomas que me consomem, mas foi um alívio dar um nome ao que eu sentia há muito tempo. Deixar de ser "maluquinha", hipocondríaca ou preguiçosa, foi um alívio enorme. Noutro post falar-vos-ei sobre isto.

Seria muito bom que os médicos, no meio da sua sabedoria, que não questiono, antes pelo contrário, passassem a olhar para as pessoas como elas são: pessoas. Que mesmo que os seus sintomas sejam produção da sua cabeça devem ser valorizados, já que uma cabeça que produz sintomas precisa de ajuda. Os médicos devem saber encaminhar e não julgar quem têm à sua frente. 

 

Ainda hoje, mesmo sabendo que a minha médica me ouve (já do reumatologista não posso dizer o mesmo, estou-lhe grata pelo diagnóstico mas sinto-me completamente perdida no processo - bendita internet que me tem esclarecido) ainda tenho muitas dificuldades em dizer o que sinto, tenho muito medo de ser julgada. Eu não sou "maluquinha", nem nenhuma pessoa que consulta um médico. Nenhum sintoma deve ser desvalorizado! Nenhuma pessoa deve ser desvalorizada!

Shame on You!....

É impossível não escrever sobre o que se está a passar neste país. Estamos, com certeza, todos consternados, angustiados e revoltados com o que se está a passar.

 

Perante tal cenário custa-me haver uma esquerda e uma direita, e ainda um centro e que raio mais poderá haver no quadrante político nacional.

 

Custa-me ver, e ler, as acusações, as exigências de demissões, custa-me que venham logo de lá as oposições de dedo no ar, no alto da sua arrogância e tremenda falta de consideração por quem já se foi, por quem perdeu os seus, por quem perdeu tudo, pelos bombeiros e todos os militares que estão no terreno, exaustos a dar a vida pelo nosso país e por todos nós. Quando lá estiveram fizeram o quê mesmo?

 

Custa-me ver, e ler, um governo que diz para nos habituarmos ao que temos, que tudo está a ser feito (?!?!), que estes incêndios se deram em condições particulares, anómalas... A sério? Outra vez? Ainda há 4 meses as condições foram particulares, agora voltaram a ser?... Se assim é, se num espaço de 4 meses já morreram cerca de 90 pessoas graças às condições anómalas, talvez estas condições tenham de deixar ser consideradas de excepção e passem a ser encaradas como a realidade que temos. Não sei, digo eu, comum cidadã!

 

Custa-me ver o aproveitamento de alguma imprensa que, mais uma vez, não olha a meios para ter notícia.

 

Custa-me ver as televisões nacionais a ignorarem a desgraça que vai pelo país, numa luta por audiências. Os 4 canais que não são por cabo, estiveram ontem, nas horas de maior aflição a falar de tudo, até programas de entretenimento e programas sobre futebol houve, mas nada sobre os incêndios... Para nos inteirarmos do cenário teríamos de ter cabo, há muita gente que não tem, principalmente as pessoas que mais precisam de notícias, as pessoas das aldeias cercadas pelo fogo.

 

Custa-me ver, e ler, que a imprensa não deu notícias nem cobertura, nem actualizações, sobre alguns locais do país, nomeadamente sobre Arganil, onde várias aldeias estiveram sem comunicações algumas, completamente isoladas, rodeadas de fogo, sem bombeiros, seu autoridades a orientar, sem estradas de acesso e nada... Nem uma palavra. Pessoas que, estando longe, não sabiam dos seus, desesperadas por notícias que não chegavam. Pessoas que não dormiram, umas a combater o fogo, outras a aguardar boas notícias. Aldeias que estão sem luz, sem comunicações há cerca de 24 horas... Quantas mais haverá assim? Quantas mais aldeias, localidades, serras e montes estarão a arder sem ser notícia? Faz-me pensar se o que sabemos não será muito pouco comparado com a realidade.

Não consigo aceitar que, perante isto, haja uma esquerda e uma direita, mais um raio de um centro. Que se peçam reuniões com o Presidente da República, fazendo notícia disso, aproveitando-se da desgraça alheia para fazer campanha. Que se falem em reuniões de urgência marcadas para daqui a uma semana (?!?!?)... Urgência? Uma semana?... Há aqui qualquer coisa que não bate certo...

Neste momento, a esquerda, a direita e o centro só têm de se juntar, unir esforços, ultrapassar diferenças e fazer, de uma vez, o que ainda ninguém fez por esta nossa floresta, pelas nossas casas, pelas nossas vidas. Não é altura de luta política! Tenham vergonha, caros governantes, ex-governantes e futuros governantes e até mesmo aqueles que nunca governarão nada mas continuarão a usufruir dos nossos impostos... Shame on You!!

 

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 Foto Paulo Novais/Agência Lusa 

Guimarães é Linda!!! - Viagens na minha terra#1

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Aqui os Marqueses gostam bastante de passear... Quem não gosta, verdade?

Tínhamos o Minho "em carteira" há séculos... Eu bem que insistia, vamos ao Minho! Eu, que adoro o Minho! Terra de gente boa, alegre e simpática, boa comida, bom vinho (ai... O vinho verde, senhores!...) e com paisagens e cidades lindas, lindas. Passei férias no Minho grande parte da minha vida, em miúda (vá, até o final da adolescência) ia todos os anos para Monção, ali junto a Espanha, no tecto de Portugal, já no final da adolescência ia para Viana do Castelo, cidade linda, com uma vista de cortar a respiração de Sta. Luzia, com o rio e a cidade aos pés... Todos os anos lá dizia eu: Vamos ao Minho! Que o Marquês nunca havia ido ao Minho, mas a coisa nunca se dava, ora porque aparecia uma oportunidade noutro local, ora porque estava frio, ora porque íamos em trabalho para outro local qualquer e aproveitávamos... Enfim, um sem número de razões e não razões... Mas desta feita fomos ao Minho. E qual o melhor local para começar a mostrar o Minho ao Marquês? Guimarães, pois claro! O Berço na Nação!

 

Escolhido o Hotel, marcadas as datas e lá fomos nós pela estrada fora, que viagem desoladora... o estado da nossa floresta é de ir às lágrimas. Não há como não ver quilómetros e quilómetros de cinzento e preto, árvores mortas, um cheiro a queimado, sinal da morte e destruição de um dos nossos bens mais preciosos... Uma tristeza!

 

Chegámos à hora do almoço, esganados de fome. Fomos ao Hotel, ficámos no Santa Luzia Arthotel, que fica mesmo junto ao centro, posso-vos dizer que estacionámos o carro (na rua, o Hotel não tem parque apesar de dizer no site que tem estacionamento, este é na rua e apenas dá para 4 carros) e andámos sempre a pé, só voltámos a pegar no carro para vir para Lisboa. Fomos almoçar ao centro, numa esplanada, uma bela de uma saladinha (vocês ainda não sabem mas eu sou vegetariana) e ali ficámos, entre uma imperial (fino, diz-se fino em Guimarães!), uma conversa boa e um tema fracturante... Uma decisão  urgente a tomar! Naquele dia em Guimarães jogava o nosso Sporting, foi por acaso (pelo menos na parte que me toca, já em relação ao Marquês... tenho as minhas dúvidas que ele não soubesse... mas vou fingir que sim, que acredito!), e vai daí põe-se a questão: "Vamos ver o jogo?"...

 

Eu gosto de ver o meu Sporting jogar, que gosto, mas estava um calor de fazer suar as estopinhas e a mim apetecia-me mesmo ir até à piscina... Para mais, já sabemos, infelizmente já nos vamos habituando a vir do estádio chateados e a mim não me apetecia nada estragar o fim-de-semana. Mas..., como vocês sabem, eu sou uma jóia de moça, disse ao Marquês: Mori (mentira... Eu não trato assim o Marquês... Cruzes, credo!), se quiseres muito, 'bora lá ver o jogo! - Ainda se pensou durante um bocado, grande, sobre o tema, mas dava-se o seguinte:
- Não tínhamos bilhete, o que significava passar o resto da tarde numa cidade que não conhecemos, correndo o risco de sermos apupados - sim que os Vitorianos são adeptos fervorosos e já andavam todos por lá como seu equipamento vestido (não, não se chama Guimarães ao clube, isso é para gente inculta como nós, chama-se Vitória, amores, Vitória);

- E... Atentem bem no que vos conto que é tão, mas tão parvo bonito, não sabíamos onde era o estádio e o amigo Google não nos estava a ajudar nada. Mais uma vez não quisemos perguntar, não fosse um Vitoriano enviar-nos para Braga ou assim...

 

Vai daí fomos para a piscina do Hotel (que fica no topo do Hotel) que foi o melhor para o nosso bem! Sim, que estavam 40º... Verdade, verdadinha! E lá estávamos nós, de papo para o ar, a apanhar o solinho (eu era mais a sombrinha, snift, snift...), quando começamos a ouvir as claques e o Marquês diz, muito meio corado, um pouco a medo: - Olha ali em frente... Estás a ver?... e eu: Errr... humm... Es...tou!....

Sim, é isso mesmo que estão a pensar... Era o estádio, a 2 minutos e meio do nosso Hotel! Se fosse um cão mordia-nos!... Mas pronto, ouvimos o jogo, marcámos 5 golitos, ganhámos, descobrimos que mais de metade do pessoal que estava na piscina era Sportinguista, vimos os estrangeiros fascinados a ver passar a claque do Sporting, com os seu cânticos... E não estrangeiros da minha vida, tal como o Guimarães não é o Guimarães mas sim o Vitória de Guimarães, também o Sporting não é o Sporting de Lisboa mas sim de Portugal!! Eu, a fazer o bem e a ensinar as pessoas desde mil nove e setenta e picos.

 

A piscina é espectacular, sossegada, os funcionários são do melhor que há. Já estive em muitos hotéis (em lazer e trabalho) e posso-vos dizer que os funcionários da piscina do Santa Luzia Arthotel são do mais simpático e prestável que há. Ide lá confirmar que não se vão arrepender. São simpáticos sem serem chatos, eu detesto gente chata! Chateia-me imenso ir àquelas lojas onde andam atrás de nós a mostrar tudo e a oferecer ajuda...

 

Nessa noite, todos contentes com o resultado da bola fomos jantar ao Histórico by Papaboa. O sítio é giríssimo, um solar antigo muito bem conservado e respeitando a traça original, o serviço foi do pior que se possa imaginar, chamar pelo empregado que fingia não nos ver (um casal de uma outra mesa levantou-se e foi embora apenas com azeitonas e pão no bucho), esperar um tempo não razoável por tudo (comida, bebida, conta... Sim, a conta tivemos de nos levantar e ir ao balcão). A comida? Era sofrível. Estávamos no Minho, é suposto comer-se bem. Eu sou vegetariana, como já referi, aceito uma salada ou uma massa com cogumelos e legumes cozidos num qualquer "restaurante de bairro" mas custa-me a pagar, caro, num restaurante de renome, por um prato de massa cozida com uns legumes e cogumelos mal amanhados. O Marquês não é vegetariano e o prato dele, bacalhau com batata a murro e broa estava, como direi, assim-assim, nem bom nem mau. 

 

Passear pela cidade à noite é fantástico. Guimarães tem uma vida noturna que eu jamais havia imaginado, gente e mais gente nas ruas, os bares cheios, as esplanadas sem lugar para sentar, e são bastantes. Uma noite espectacular, calor, céu estrelado. Eu, que sou friorenta, andei sempre de manga curta, estavam 30º lá pelas 10 da noite. O centro da cidade, super-bem conservado e recuperado, todo iluminado. Passear por aquelas ruas, com centenas de anos e imaginar as pessoas que ali viveram, as histórias que aquelas paredes têm para contar, um pedaço enorme daquilo que hoje somos como país, é mágico. E para que vejam o quão fervorosos são os adeptos do Vitória, mesmo tendo perdido 0-5 com o meu Sporting (coisa mai linda), andavam a passear-se pela cidade, a jantar, beber copos nas esplanadas, equipadíssimos. É assim mesmo, o nosso clube é o nosso clube, na vitória e na derrota.

 

No dia seguinte, após o pequeno-almoço (que era bom!), e eu adoro pequenos-almoços nos hotéis (quem não?), acabo por comer sempre o mesmo, invariavelmente, mas gosto de ter opção de escolha e gosto de ver as pessoas, o burburinho, as conversas, imaginar o que estão ali a fazer (umas de férias, outras de fim-de-semana, outras em trabalho...). Adoro hotéis. A sério! Dou imenso valor à estadia quando passeio. Bem, como já perceberam também gosto de divagar, como estava a dizer, após o pequeno-almoço fomos ao Castelo de Guimarães (tinha que ser, claro!).

 

O Marquês, munido do Google (benzádeus quem inventou o Google), disse-me que o Castelo ficava a 10 minutos a pé do Hotel. Desconfiei! Sei bem que gosta de me enganar nestas coisas, e eu há dias em que me custa bastante andar. Este era um desses dias, estavam 42º, aquela hora (10 horas) ainda só estavam 30º, e eu estava muito cansada, mais a arrastar-me do que a andar. (quem quiser pode perceber o porquê aqui). Mas ele não me enganou, são mesmo 10 minutos a pé e é uma subida muito ligeira, quase nem se dá por ela. E lá fomos ver o local onde nasceu Portugal, o local onde se deu a Batalha de S. Mamede que opôs as tropas de D. Afonso Henriques às tropas de sua mãe D. Teresa. Não amigos, mãe e filho não andaram à pancada, quem andou foram os seus soldados. Vale a pena visitar o Castelo. Paga-se, não vos sei dizer quanto pois era Domingo e como éramos cidadãos nacionais não pagámos (tenho para mim que os espanhóis devem pagar a dobrar, que é para não ser armarem ao pingarelho a querer levar Portugal de volta). Quando saímos do Castelo avistámos uma Igreja, fica mesmo em frente e fomos visitá-la. Demos por nós no meio de um casamento! Só nós! Ainda assistimos, já dentro da igreja, à entrada da noiva e depois saímos de fininho.

 

Fomos dar uma volta ao centro, que já tínhamos visto à noite e de dia continuava maravilhoso. Assim que chegámos ao largo da Oliveira vimos uns noivos a sair da Igreja. Está visto que Domingo é dia de casamentos em Guimarães. Almoçámos, novamente numa esplanada, que bem que se estava. À tarde, pois que, fomos piscinar. Um mergulho, um gelado, uma espreguiçadeira, enfim... Uma canseira! Um facto bastante curioso e algo desconcertante nesta piscina era a casinha de banhinho. Claro que eu tive de usar a casa de banho, assim que entrei desisti. Fui tão rápida que o Marquês me perguntou. Já?... A porta abre directamente para a zona de passagem da piscina, aquela mais movimentada de todas as zonas, em frente, assim que entramos damos de caras com a sanita, que fica a uns 3 metros da porta, mas em frente, reitero, e a porta não tem chave, nem trinco, nem nada! É sítio para uma pessoa estar sentadita e a porta abrir-se e cú-cú.... Claro que preferi ir ao quarto.

 

À noite, aconselhados por um dos simpáticos funcionários da piscina (e marcado por ele) fomos jantar ao Buxa. Vale a pena! Muito bom! - Já perceberam que apostamos as nossas fichas todas nos jantares. Ao almoço contentamo-nos com uma saladinha, uma sandoca e ao jantar vingamo-nos, bebemos um vinho, conversamos e deixamo-nos ficar -. Ficámos na esplanada, um calor de fazer transpirar mesmo sendo noite. O Buxa é no centro da cidade, numa das praças. Jantámos rodeados de história. O serviço muito simpático, a contrastar com o da noite anterior, a comida estava óptima. E não, não é preciso muito para fazer um bom prato vegetariano. Comi um divinal folhado de legumes, acompanhado de um delicioso vinho verde, claro! E depois demos mais uma volta pela movida de Guimarães, que mais uma vez me surpreendeu! Era Domingo e parecia o Bairro Alto num Sábado à noite. Cheio de gente. 

 

No dia seguinte viemos embora.... :( Mas com a promessa de voltarmos, desta feita com as aspirantes ao título e para uma visita mais abrangente pelo Minho. Eu já conheço, mas o resto da minha malta ainda não, Braga, Viana do Castelo, Ponte de Lima, enfim, fazer um périplo pelo Minho.

 

Só estivemos 2 noites em Guimarães, dá para ver a cidade toda, mas sabe sempre a pouco no que toca a descanso e havia uma série de restaurantes que gostávamos de ter experimentado, mas não deu tempo.

Querido Pai Natal...

Querido Pai Natal (sim, eu sei que ainda faltam 2 meses e meio, mais coisa menos coisa, mas é para te ires preparando... que é como quem diz, abrindo os cordões à bolsa...),

 

Sei que pode parecer parvo, já que és uma figura do imaginário infantil e um símbolo do consumismo que tanto jeito dá às lojas nesta altura, escrever-te esta carta mas eu acredito em figuras imaginárias e em sonhos e cenas assim, por isso cá vai:

Eu sou uma 'soa que se porta bem durante todo o ano, sou o que se pode chamar uma jóia de moça, porto-me tão bem que dificilmente ouviste falar de mim, já que só tens olhos e ouvidos para os putos ranhosos e mal-comportados que não merecem presentes no Natal. Bem, retomemos, eu sou uma jóia de moça, a nora que qualquer sogra sonha, e nunca te pedi nada (desculpa lá o tratar-te por tu já que tu não te deves lembrar de mim, mas eu conheço-te bem já há uma série de anos, tenho até uma fotografia contigo tirada na Baixa de Lisboa, tinha eu um casaquinho de fazenda azul-céu, sim eu andava na moda já em 1970 e picos, e como tal acho que já temos intimidade para eu te tratar por tu. Claro que estás à vontade para fazeres o mesmo apesar do teu casaquinho ser bastante demodé).

 

Agora que já estabelecemos a forma de tratamento entre nós, vamos lá ao que interessa, saúdinha não é tema a tratar contigo, diz que é com os Santos (pesquisei, há um santo para cada enfermidade, fiquei sem saber qual é o da saúde), dinheirinho diz que é com trabalhinho e assunto a tratar no banco, trabalhinho é mesmo connosco, toca a arregaçar as mangas e força nisso, portanto assuntos entre nós são mesmo os bens materiais, essa cena altamente supérflua e conspurcadora da alma, mas que nos faz tão felizes.

 

Assim, como assim pedir pouco ou pedir muito vai dar no mesmo, eu peço mesmo tudo, ou quase vá. Até é cena para nem te dar trabalho, nem precisas de pôr os duendes e os elfos a trabalhar nisso, não é pesado para as renas, que é sabido que gosto muito de animais e faço o que posso para que não sofram, e basta-te um telefonema ou uma ligação à net e arrumas o assunto:

 

- É uma viagem a Nova Iorque, New York, NY, o que lhe quiseres chamar, aquela mesma que fica lá nos Estados Unidos da América, fáxavor. É para 4, que quero levar o marquês e as aspirantes ao título. 1 semaninha está bom. Pode ser apenas o voo e a estadia, o resto a gente amanha. Come-se umas pizzas, e umas french fries (oh eu a treinar o meu "americano"... Espectáculo!)  e traz-se um recuerdo qualquer a dizer I Love NY... Anda lá, não custa nada!

 

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Como eu não quero ser intransigente, e gosto que o Pai Natal tenha alternativas, cá vai:

 

- É uma viagem ao Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, sim aquela no Brasil da América (e não na avenida). Nunca fui ao Brasil, nunca quis ir ao Brasil, por nenhum motivo em especial apenas não me cativava a ideia, mas ultimamente ando com muita vontade de conhecer o Rio de Janeiro e como esta cidade é no Brasil, lá terei eu de ir ao Brasil, vicissitudes da vida. Tal como a anterior, a viagem é para 4, e de preferência no nosso Inverno, Verão deles. Sim, que já que é para ir ao Rio de Janeiro pelo menos que seja para deixar o frio e ir para o calor, que se é para ficarem com inveja pelo menos que seja por virmos com um ganda bronze enquanto vocês tilintam de frio...

 

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Se os voos estiverem cheios e não houver hotéis de jeito, também aceito:

 

- Uma viagem (digam lá, não estavam nada à espera que fosse uma viagem, pois não? Eu sou tão imprevisível, minha nossa! - Oh eu a treinar o meu "brasileiro" para a viagem ao Rio) a Moçambique, um Safari. É! Ver os leões, os elefantes, os hipopótamos, os búfalos, etc e tal... Que eu sou moça que não gosta de zoológicos e que está plenamente convicta de que o lugar dos bichos é no seu habitat natural. Eu cá também não gostava que me enviassem para Marte para morar enquanto uns marcianos me apreciavam e atiravam bananas (apesar de eu ser grande apreciadora de bananas).

 

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Um Hipopótamo em África, mas podia bem ser eu nas Maldivas...

 

- Uma viagem às Maurícias, ou Maldivas (que eu não sou esquisita) e estar por lá, a passear nas areias brancas, a esforçar-me arduamente por não fazer nada, de papo para o ar, a ter de tomar difíceis decisões, "janto aqui ou janto ali?", "acordo às 10 ou às 11?", "praia ou piscina?", e por aí fora. Para aqui não aceito menos de 10 dias, que a viagem é longa e o cansaço imenso.

 

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Nos entretantos (que é o tempo entre regressar da viagem gentilmente oferecida pelo Pai Natal e fazer a mala para a próxima) estou a pensar em pedir ao Coelho da Páscoa (que eu sou pessoa organizada e não gosto de deixar nada para a última hora), uma viagem a Amesterdão, Budapeste, Florença, Praga... E para já chega que não posso pedir tudo de uma vez que não sou gananciosa.

 

E é isto, querido Pai Natal. Como podes ver, nada de especial e tudo à distância de um clique. Clicas numa qualquer agência de viagens, escolhes a que te apraz oferecer-me, colocas o voucher num envelope catita e deixas debaixo da minha árvore que, by the way (oh eu, outra vez, a treinar o meu estrangeiro), está desmontada numa caixa, na minha sala desde o Natal passado à espera de ir para a arrecadação. Se calhar agora já não merece a pena, digo eu!

 

Beijinho, beijinho, kiss, kiss, aquele abraço,

A Marquesa de Marvila

 

* E por aí o que vão pedir ao Pai Natal? Digam-lhe que vão de minha parte que nós somos velhos amigos e de certezinha, se se portaram tão bem como eu, ele satisfará os vossos desejos. Se não, olhem, um brinde e muitas filhós também já ajudam!

 

 

Bóra lá estudar!...

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Cada vez mais me convenço, e quem me conhece sabe que este não é assunto novo, que andamos (nós sociedade, nós pais e encarregados de educação) a criar adultos incapazes. Passo a explicar, as crianças e jovens de hoje são os adultos de amanhã, isto já todos nós sabemos e ouvimos vezes sem conta, e hoje tratamos as crianças como donas e senhoras do mundo.

 

Não se lhes pode dizer que não, coitadas ficam traumatizadas; Não podem ter negativas, chumbar nem se fala, coitadas ficam traumatizadas; Não se lhes pode negar nada, sob pena de ficarem traumatizadas, claro. Vejo pais e mães, a estudarem com e pelos filhos, uma ajuda eu percebo, mas estudar com e por eles?... Não percebo! Então se a criança tem maturidade para estar em determinado ano de escolaridade, suponho que a matéria dada está ao nível da sua capacidade intelectual, logo é capaz de estudá-la e apreendê-la, se não é capaz então que repita o ano pois não está ao nível cognitivo exigido pelo respectivo ano de escolaridade. Assim como percebo que tenham explicações, não percebo é que se misturem as competências parentais com as escolares. Reitero que percebo uma ajuda tipo: "Oh mãe, não estou a perceber este problema aqui..." ou, "O que quer dizer procrastinar (mais uma vez esta linda palavra, que eu adoro! Peço-vos, mais uma vez, digam-na lá em voz alta. Coisa mai linda)?" 

 

Também percebo que, perante uma matéria que não se está de todo a compreender, que por algum motivo não está a "encaixar" até nos possamos sentar com eles e dar uma ajuda mais aprofundada, caso seja um tema fácil para nós. Mas isto é pontual. Há pais e mães que literalmente estudam com os filhos e dizem: "Vou estudar matemática, eu que até era uma nulidade à disciplina e fui para letras para lhe fugir agora estudo matemática para ajudar o Joquinha, coitado senão ele não consegue!"... É impressão minha ou estamos a chamar burras às crianças? E depois, também vão fazer os testes por eles? E vão fazer os exames de admissão à faculdade? E também vão à entrevista de trabalho?... Amores da minha vida, acreditem que só não vão aos testes e aos exames porque não podem porque à entrevista de emprego há quem vá! A sério! Não me contaram, tipo eu-tenho-uma-prima-cuja-filha-da-vizinha-da-mãe-o-fez, não! Eu conheço quem o tenha feito e o contou com orgulho! E não foi um caso isolado de um tresloucado qualquer, não! 

 

E depois vocês dizem, como amigos já me disseram, "ah, mas tu tens sorte que as tuas filhas são boas alunas!". Não minhas caras pessoas giras, não tenho sorte! Uma das minhas filhas é excelente aluna, vero! A outra nem por isso. Teve explicações, passou no ano passado com uma negativa, a meio do ano foi accionado um plano contingente-emergente-urgente-ó-coiso, parecia o início de uma guerra nuclear a evitar a todo o custo, para que ela não chumbasse. Fomos chamados à escola, tivemos de assinar folhas e papéis com planos infalíveis para que ela não chumbasse, autorizações e responsabilizações e cenas malucas... rejeitámos a maioria delas, dissemos que sim a outras só para a DT (directora de turma) se acalmar, ou chamava a NATO, colocámo-la numa explicação, retirámo-la da explicação (estávamos apenas a gastar dinheiro) e tivemos uma conversa séria com ela: "Minha amiga, isto é assim, ou estudas e te aplicas ou temos chatice!..." E ela estudou, aplicou-se e deu o seu melhor! É o que exigimos sempre, que dê o seu melhor e se aplique. E dar o seu melhor, não é ser a melhor. Nós não queremos que esse seja o objectivo delas. 

 

Posso não ser o melhor exemplo de sucesso, mas licenciei-me, nunca chumbei, andei muitas vezes "na corda bamba" como a minha mãe sempre gostou de dizer, trabalhei por conta de outrem, trabalho por conta própria, e nunca os meus paizinhos estudaram comigo, limitavam-se a tirar satisfações, a impor castigos quando não cumpria e a premiar os sucessos... A única vez que alguém estudou comigo, foi uma das minhas irmãs, mais nova que eu 8 anos (ahhaahhaah!!), matemática, estava eu na faculdade, no último ano e tinha a porra da matemática pendente desde o primeiro, verdade que nunca me tinha proposto a exame, pura e simplesmente a tinha posto de parte, eu não tinha matemática desde o 9º ano, a minha irmã era da área de economia e sentou-se comigo a estudar... até me ter perguntado: "Oh gaja (sim, somos umas queridas umas para as outras), mas afinal quando é que é o exame?" e eu... "amanhã"... "fod*-se, 'tás a gozar comigo, certo?"... e eu: "Não!...", "Eh pá, esquece, vou dormir masé, não é numa noite que te vou ensinar a matéria de um ano"... E foi assim, a minha experiência com estudos familiares. Aos interessados, passei no exame, a minha irmã só acreditou quando foi comigo à faculdade verificar! E mais uma vez os meus pais não interferiram, nem souberam de nada, apenas que eu tinha passado a matemática e terminado o curso, ou quase ainda faltava a tese, essa querida!

 

E depois vemos nas reuniões de pais posições verdadeiramente chocantes, uma falta de confiança na escola, nos professores, nos filhos, pais que sabem a matéria toda que os filhos estão a dar, pais que fazem os trabalhos dos filhos, pais que tentam ensinar os professores a melhor forma de ensinar, pais que ignoram totalmente os apelos dos professores para que os deixem ser autónomos, para que não façam fichas em casa com eles, para que não façam os TPC por eles... Os putos podem portar-se mal, ser mal-criados, desrespeitarem tudo e todos pois os pais estão lá para dizer amém a tudo o que as suas crias fazem. Eu, há coisas que não sei nem quero saber sobre a escola e os professores e a interacção entre alunos e professores, é um tema deles, a escola tem de ser capaz de lidar com os seus problemas, temos de legitimar os professores e as escolas para que possam cumprir a sua função educativa. Nós, pais, em casa temos a nossa, que não é, certamente, a de estudar com e por eles, a de fazer os trabalhos por eles.  A única coisa eu eu quero, e exijo, saber da escola é se as minhas filhas não se portarem bem ou não cumprirem e não é para lhes passar a mão no lombo a dizer "coitadinhas", não, é mais uma vez para as responsabilizar (sosseguem que não é para lhes passar a mão no lombo nem no bom nem no mau sentido!).

 

Antes que se exaltem, esta é a minha perspectiva, não estará certa nem tampouco errada, é só a minha opinião. Não faz de mim melhor mãe, mas sim na mãe que dá às suas crias aquilo em que acredita: Autonomia, responsabilidade, confiança! Se erro? Sim, imenso! Muito mesmo! Sou a melhor e a pior mãe de sempre. Enquanto elas me disserem que sou a melhor mãe do mundo intercalado com um "odeio-te, és a pior mãe do mundo" sei que estou no caminho certo! Mas isto sou e são elas... Admito, aceito e gosto até, que haja quem pense diferente, e um dia posso até mudar de opinião (sobre este tema tenho as minhas dúvidas, mas pronto...).

Ps. Refiro-me a crianças saudáveis e sem qualquer constrangimento cognitivo, social ou psicológico.

Não, não é fofinho! E também não, não é amor!

Há uns tempos li, lá pelo maravilhoso mundo do facebook, algo que me desconcertou. Foi algo publicado por uma jovem, com cerca de 20 anos. O que torna tudo mais assustador. Era uma partilha de um post de uma página qualquer brasileira, que tinha milhões, sim, leram bem milhões de likes e milhares de comentários de apoio.

 

Não me recordo das palavras certas, mas era uma ode às mulheres abusadoras e possessivas, dizendo que uma mulher que quer saber tudo sobre o seu mais-que-tudo (que termo tão foleiro, blhéc...) o faz por amor, que uma mulher que faz uma cena de ciúmes não é ciumenta é zelosa do que é seu (?!?!?!.... What?!?... Mas há mesmo quem acredite ser dono de alguém?... Nem os filhos são propriedade nossa.), quem querer saber a password do namorado (do telemóvel, e-mail etc...) não é por controlo, é apenas um voto de confiança dele, não o deixar sair com os amigos não é porque não confie nele, é porque não confia nos amigos dele e ela é que sabe o que é melhor para ele... Confesso que não consegui ler tudo, sob pena de ter de vomitar, mas fiquei muito, muito chocada. Não só pela tremenda baixa autoestima destas mulheres, mas também porque se isto estivesse no masculino era violência doméstica. Era abuso! Na mulher não é abuso? Não é violência? É o quê? É fofinho? É amor?

 

Não, não é amor! Amor é confiança total! Se não podemos, se não conseguimos, confiar em determinada pessoa (homem ou mulher), com ou sem motivos para isso, então não o amamos, temos apenas e tão só o sentimento de posse. Como é que se quer que alguém fique connosco se não confiamos nessa pessoa? Eu só quero alguém comigo que queira ficar comigo.

 

É como ter um perfil de facebook conjunto, não é fofinho, não é amor, não é confiança total. Pelo contrário, é desconfiança total! Se eu tenho necessidade de ter um perfil conjunto é porque não confio na pessoa que está comigo. Mas este tema dará outro post, porque para além de não ser fofinho, é parvo!

 

Quando chegamos ao ponto de querer saber tudo o que o outro faz, diz, com quem está, com quem partilhou conversas, assuntos, posts, etc... Temos de parar, se não conseguimos sozinhos temos de pedir ajuda. A co-dependência, de que se fala tão pouco, existe e é uma doença, pode ser tratada e há ajuda profissional para isso. 

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