Quem tem dinheiro tem manual escolar, quem não tem espera pelo voucher....
Parece que anda tudo por aí num alvoroço...
O Estado Português, e muito bem, começou a patrocinar os manuais escolares a crianças até ao 6º ano que estudem no ensino público. A Câmara de Lisboa, estendeu a oferta até ao 12º para alunos que estudem na cidade e frequentem o ensino público. Com isto, o Estado/Câmara ajudam as famílias numa despesa por demais pesada para a maioria dos orçamentos domésticos, poupa-se o ambiente (não entendo como se pode gastar tanto...), reutiliza-se e saímos todos a ganhar (menos as editoras, as instituições de crédito...).
Acho esta medida louvável e até nos dá a sensação de estarmos a viver num país evoluído, lá para a Dinamarca, Noruega, Finlândia... por aí, só que com mais calor. Mas as semelhanças terminam por aqui mesmo. Este ano, pela primeira vez, a atribuição dos manuais é feita através de uns vouchers. Os encarregados de educação têm de se registar na plataforma MEGA e aguardar a emissão dos vouchers. Estes vouchers, que têm um número único para cada aluno e só podem ser utilizados uma vez, podem ser trocados pelos manuais novos nas livrarias aderentes, OU, em vez do voucher pode ser atribuído um manual em segunda mão ao aluno, este será entregue pela própria escola (esta é a parte de que as editoras não gostam!).
Fantástico! Pensamos nós que, por momentos, nos sentimos a viver num país evoluído... Mas... (after a but always comes a shit) mas... dizia eu, as aulas começam daqui a 2 semanas e muita, muita, muita gente (não arrisco dizer todas as pessoas pois seriam muitas e estaria, provavelmente, a ser injusta...) ainda não recebeu voucher nenhum... Ahhhhhhhhhh!!!!!!
Ora bem, os senhores do Estado sabem que o povo Português é um povo organizado (not), que gosta de fazer tudo a tempo e horas (not), e ainda não terem os vouchers enerva as pessoas... A malta no que toca aos seus rebentos mai'lindos e fofos, cutchi-cutchis, fica com uma ansiedade que pode mesmo desembocar em taquicardias, palpitações e, no limite, num enfartezito, e vai daí a malta já está toda cusnervos de ainda não ter vouchers... e eu, que sou uma pessoa dada a descontração nestas cenas (já me basta os nervos de achar que posso falecer a qualquer instante), também já começo a pensar que "se calhar... os livros já deveriam morar cá em casa... ou pelo menos estarem encomendados...".
"Então Marquesa, mas se ninguém tem os manuais, não há mal... os professores têm de se adaptar..." - pensam vocês, e bem. Pois... mas como eu disse acima, há malta que já tem ido às urgências com urticária, palpitações e pequenos enfartes, os calmantes dispararam as suas vendas (a ver bem, até as farmacêuticas ganham com isto!) e há malta que já desatou numa correria, tal qual Black Friday em Nova Iorque, para as livrarias e já encomendaram os manuais todos e tudo e tudo. "Então e qual é o mal?..."
O mal, é que o Estado continua a beneficiar quem tem possibilidades financeiras em detrimento de quem não tem. O mal é que há alunos que terão os manuais todos no início das aulas e outros que não terão, o mal é que, mais uma vez, os prejudicados são os miúdos. O mal é que os professores, na sua maioria, vão dar a matéria com o que têm e se a maioria tem manuais, que se lixem os outros (não digo que sejam todos mas, por experiência própria isto acontece)
O mal, é que o Estado continua a beneficiar as instituições de crédito, que esfregam as mãos e aliciam os pobres pais que, não tendo 200 euros (ou mais) por rebento para dar em manuais, vão pedir um crédito para os comprar...
O mal, é que o Estado continua a dar com uma mão e a tirar com a outra: "Nós damos, mas vocês têm de se aguentar se os querem ter... se não façam-se à vidinha!", e às tantas já o Estado poupa uns valentes "trocos" graças aos pais que se chegam à frente. E para onde vai o dinheiro poupado?... Seria bom que revertesse para a educação, escolas, materiais, etc... Mas ninguém sabe!
O que mais me custa, e acreditando que todos os pais são livres para agirem como querem (apesar de eu achar que é um absurdo largarem todos a comprar livros se estes são gratuitos... e passarem a mensagem ao Estado de que "a malta abunda e não precisa da vossa ajuda", o que pode provocar o reverso desta comparticipação), é saber que há alunos que estão a ser prejudicados pela inacção do Estado. Quem tem dinheiro tem, sem qualquer dúvida, mais possibilidade de ter boas notas, de ter uma boa educação... quem não tem que se amanhe! E o Estado alimenta isto! É triste!
E por aí já compraram os manuais ou estão à espera dos vouchers?
Eu cá continuo a aguardar os vouchers... espero que cheguem antes do Natal!