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A Marquesa de Marvila

Aqui não se aprende nada... Lêem-se coisas escritas por mim, parvoíces na maioria das vezes mas sempre, sempre verdades absolutas (pelo menos para mim).

O ensino está obsoleto?...

Tenho andado vai não vai para escrever sobre este tema, e hoje resolvi que vai! Aqui vai a minha fantástica escrita sobre este tema:

A minha aspirante mai'nova (coisa mai'linda de sua mãe) está no 8º ano, sem nunca ter chumbado mas apresentando algumas dificuldades. Já vos tinha contado que ela andou numa escola privada até ao 6º ano, achávamos nós que tínhamos feito uma boa escolha... não fizemos! Percebemos, tarde de mais, que a escola inflaccionou as notas dela, que a escola camuflou um problema maior e com isso comprometeu todo o futuro dela, já lá vamos...

Com a mudança de escola, saindo da privada para a pública (por motivos que expliquei neste texto aqui) começámos a perceber que o que a nossa filha estudava não correspondia aos resultados escolares. Ou seja, ela estudava mais do que o suficiente para ter boas notas, ela era acompanhada por nós (coisa que nunca concordámos e que nunca fizemos com a mais velha. Achamos que as crianças devem se autónomas e recusamo-nos a estudar com elas mas, neste caso específico, tivemos de o fazer para perceber o que se passava), ela sabia a matéria e trazia notas de 20%, 30% a uma série de disciplinas. Outras, aquelas cujos professores tinham outra forma de ensinar, em que os testes não eram formatados, em que tudo o resto (para além dos testes) é valorizado ela tinha boas notas, boas mesmo! No entanto, terminou o 1ª período com 6 negativas... 6, leram bem!

Nós, que nunca ligámos às notas, que sempre nos preocupámos com aprendizagens em detrimento das notas (não valem porra nenhuma se a matéria não for aprendida. De que serve ter 90% num teste se foi só marrar e no dia seguinte não sabe nada?), que nunca lhes perdoámos os erros ortográficos apesar de não querermos saber se o verbo é pretérito-perfeito-do-indicativo-ó-caraças, o importante é que elas saibam usar e escrever o tal do verbo agora como é que ele se designa?!?!... a sério?!?!... para quê? (e a minha aspirante mai'nova que tem negativa a português não dá erros a escrever nem a falar. sabe que "grama" é uma palavra masculina, que não se diz fostes nem há-des, que diz tenhamos e não tânhamos mas que não sabe as designações, não sabe as regras mas sabe aplicá-las... tem colegas com 5 a Português que em cada 5 palavras dão 3 ou 4 erros... mas sabem as designações todas, regras e o catano... prioridades deste ensino...). Mas dizia eu, nós que nunca nos preocupámos com o tema começámos a ficar com o coração apertadinho, angustiados, tristes e a sentirmos que tínhamos de fazer alguma coisa, de cada vez que a nossa filha recebia um teste e chorava, numa tristeza que não tem explicação... a auto-designar-se de burra... a ser alvo de gozo de colegas e de bocas de alguns professores... e nós a vermos, a sabermos que sim, ela tinha estudado, que sim, ela sabia a matéria...

Optámos por lhe fazer uma avaliação com uma equipa multidisciplinar. E assim foi! Fez 6 avaliações diferentes, com 6 técnicos de especialidades diferentes, tudo pago por nós, claro está! A aspirante mai'nova é inteligente, a nível cognitivo está tudo normal, não tem qualquer tipo de deficiência cognitiva, não tem qualquer tipo de problema emocional, o problema dela é outro... é algo que deveria ter sido detectado pela professora primária e não foi... ela tem um défice no processamento auditivo. E o que é que isso faz? Ora, faz com que ela tenha de ter silêncio absoluto da sala para se conseguir concentrar, faz com que tenha dificuldade em entender conceitos, palavras e frases abstratas, faz com que o mínimo barulho a desvie do assunto principal, faz com que não entenda as perguntas dos testes (se elas forem feitas de outra forma ela entende e sabe a resposta). Pedir à nossa filha que, nas condições que a escola lhe dá, tenha boas notas é o mesmo que pedir a um coxo que corra os 100 metros em tempo recorde.

Levámos o relatório à escola... no ano passado correu bem com a maioria dos professores, ela conseguiu recuperar as notas e passou de ano! Foi a maior alegria da vida dela, nem imaginam a emoção que foi! este ano já levámos o relatório à escola de novo, vamos ver... é que a escola nada faz! Não está preparada para o fazer, dependemos da boa vontade dos professores. Alguns, felizmente, têm-na! Houve um que, mesmo antes do relatório percebeu que as notas não correspondiam ao que ela sabia, falou com ela e ela tentou explicar o que se passava e ele disse-lhe logo que nas suas aulas passaria a estar na primeira fila, que lhe explicaria tudo de forma a que ela percebesse e a chamaria mais vezes ao quadro (costumam correr muito bem as idas dela ao quadro).

Ela é uma miúda que faz os TPC, que não destabiliza as aulas, que se porta bem, que é querida pelos colegas e pelos professores, que se interessa mas que, com este método de ensino, tem dificuldades.

Isto tudo para dizer que o nosso ensino está obsoleto, que não está preparado para as diferentes necessidades de cada indivíduo (curiosa esta palavra, não?), que trata todos por igual e nós não somos todos iguais. Que a nossa filha é uma heroína! 

Segundo os terapeutas, nesta idade já não há muito a fazer ao nível da terapia para melhorar esta questão, há-de resolver-se com o crescimento. A intervenção deveria ter sido feita muito mais cedo, quando ela estava na primária, não foi! Não imaginam a culpa que nós, pais, sentimos... mas segundo os técnicos a escola deveria ter detectado. Há muito que pode ser feito entretanto. Em primeiro lugar, mantê-la na ginástica (todos são unânimes neste ponto. É algo em que ela é boa, onde é feliz e onde não tem obstáculos. Tem desafios, tem objectivos, tem trabalho e adquire uma série de competências que a ajudam), nunca, jamais em tempo algum ralhar com ela por causa das notas, nem a chamar à atenção por isso (a culpa não é dela), motivar a leitura, fazer charadas, contar anedotas e provérbios, estimular o vocabulário (isso sempre fizemos); a escola deve mantê-la na primeira fila, longe de alunos que perturbem as aulas (difícil), o ideal seria numa turma pequena e com alunos que não motivem a distração, ter uma atenção mais individualizada por parte dos professores, os testes não terem a importância que lhes é dada (impossível! 99% dos professores têm os testes como o mais importante na nota final)... há mais, mas não vos quero maçar...

Pergunto, que raio de ensino é este? O que estamos a fazer?... Um ensino igual para todos?!... Não faz sentido, caramba! A minha filha não quer saber da maioria das disciplinas, não percebe para que lhe servem (por muito que tentemos explicar-lhe), ela gosta de ginástica, de actividade física, de ciências... ela precisava de um ensino mais vocacionado, tal como a maioria das crianças.

O que estamos a fazer? 

4 comentários

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    amarquesademarvila 11.01.2019 13:04

    Muito obrigada!
    Tens toda a razão, toda! Eu, como mãe, não aceito este ensino! Não aceito um ensino em que as crianças têm de ter quem as ajude em casa sob pena de terem maus resultados, e as crianças cujos pais são analfabetos, têm pouca escolaridade, deverão ser penalizadas em favor das que têm pais licenciados e capazes de as ajudar? Ou que têm dinheiro para pagar explicações?... este estado continua a beneficiar quem tem possibilidades financeiras, continua a cavar um fosso gigante entre as pessoas... para quê? Não beneficiaríamos todos mais se vivêssemos numa sociedade mais instruída? Com as mesmas oportunidades?
    Eu não aceito este ensino mas sou das poucas... já dei por mim em reuniões de turma a ser olhada como um alien, mãe que devia ser denunciada à CPCJ... um dia atrevi-me (eu e outro pai), no colégio privado, a insurgir-me contra as carradas de TPC que os miúdos levavam para casa, estando na escola, pelo menos, até às 16:45h... tanto eu como o outro pai temos filhos atletas, a minha faz ginástica de competição, treina todos os dias, inclusive aos sábados de manhã... cabeças viraram-se na nossa direção, ouvi coisas como: - Mas beneficiam o desporto em detrimento da escola?; - Mas e depois para entrarem na faculdade, como é que vai ser? (crianças de 10 anos, no 5º ano)... eu limitei-me a dizer a um pai, chocando todos: - Eu só quero que a minha filha seja feliz, se ela for feliz será certamente bem sucedida! E sim, o desporto é mais importante para ela do que escola!
    Para quê que a minha filha está a perder anos de vida com matérias enfadonhas para ela se ela quer seguir desporto ou fisioterapia? Para quê?
    Eu compreendo que os professores não têm uma vida facilitada, muito pelo contrário. Os bons professores sofrem horrores com este sistema, os maus professores adoram este sistema. Eu sei que a maioria dos professores está com a minha filha, que a maioria dos professores não gosta nem quer este sistema de ensino e que quase nada podem contra ele.
    Percebo perfeitamente o que dizes. A professora primária da minha filha mais velha (excelente professora) teve de deixar de fazer com os miúdos a meditação matinal (após uma reforma qualquer), antes de iniciarem as aulas, porque a matéria "cresceu" de tal forma que não tinha tempo para despender de 10 minutos diários... um horror! Querem que as crianças sejam doutores com 10 anos!!!
    Em relação ao Dec. Lei, a escola da minha filha (escola que eu gosto bastante, atenção) não tem meios humanos para ela ter aulas de apoio, por exemplo... ela no ano passado foi referenciada para ter aulas de apoio de português e matemática e a escola não tinha professores para disponibilizar... resultado: Não teve! Uma tristeza!
    Mais uma vez obrigada pela tua partilha!
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    P. P. 18.01.2019 22:35

    Tentei comentar a tua resposta 4 vezes, sem sucesso. Depois, esqueci qual o blogue onde tinha lido a respeito deste problema, pois gosto de ler sobre a temática.
    Se quiseres que te envie a legislação e algumas luzes com o que deve ser feito (e não está), manda-me um e-mail. Ela deve beneficiar das medidas do DL 54. E pelo que parece, nem as universais estão a ser aplicadas.
    Se não há hora para apoio a PORT e outras, há um professor de educação inclusiva. Quem sabe, a escola não tenha um professor em mobilidade por doença das áreas em que apresenta mais dificuldades, como acontece comigo, estando a exercer num grupo que não o dele, e não se importe de apoiar a tua menina? Quem sabe não exista aquele que tem horas de substituição e detesta, o que já me aconteceu, preferindo dar apoio individualizado?
    Infelizmente, é preciso saber bater o pé.
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    amarquesademarvila 21.01.2019 14:15

    Obrigada!
    O ensino em Portugal está mesmo a precisar de uma grande reforma... sofrem os alunos, sofrem os bons professores, sofrem os bons directores de escolas, enfim... enquanto mantiverem à frente do Ministério ou das leis e tomadas de decisões pessoas que nada percebem de pedagogia, escola, miúdos, realidades sociais e aprendizagem não vamos melhorar nunca!
    Ela no ano passado não teve aulas de apoio (assim como este ano) porque a escola não tinha ninguém disponível nem verba para contratar ninguém... uma tristeza! Apesar de estar na lei! O máximo que conseguiram, e isto depende da boa vontade dos professores, é ela ir para a biblioteca nas horas em que lá está um professor de matemática ou de português e ir-lhes pedindo ajuda ou esclarecimento de dúvidas... foi o que a direcção de turma aconselhou. Por outro lado, este ano tem uma professora de Inglês que já se ofereceu para quem quiser ficar mais uma hora na aula (um dia em que aula dela é ao último tempo) para ela ajudar quem tem mais dificuldades. Mas lá está, é da boa vontade dela. Não ganha mais um tostão por isso!
    Sim, vou enviar-te um email para me poderes informar melhor, assim quando eu for falar de novo à escola já consigo levar mais informação.
    Obrigada!
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