Ser adulta é uma grande m**da!
Já devo ter falado sobre isto... se ainda não falei, falo agora e aviso-vos já que não será a última vez!
Este post vai de encontro ao post que escrevi terça-feira, o tema não é bem o mesmo mas encaixa-se perfeitamente.
A idade! A minha, entenda-se! Pessoas da minha vida, eu não sei lidar com o avançar da idade. Ah e tal, se estás a envelhecer é porque estás viva... se não envelhecesses seria sinal de que tinha falecido cedo... é verdade, sim senhora! E eu podia ouvir/ler isto e pensava: Olha que é mesmo isto! Olha que agora vou seguir a minha vidinha toda feliz e contente e agradecer cada ano que passa!... Pois que não! Não é nada disto que acontece! Aliás, as pessoas não me dizem nada disto porque eu própria o digo para me convencer de que o avançar da idade não é uma grande merda!
Eu passei anos da minha vida a desejar ser crescida, ser independente, não precisar de dar satisfações a ninguém, ser autónoma e feliz... fónix, que grande treta, masé! Eu sei que isto não se passa com todas as pessoas. Eu sei que, para além da minha enorme falhinha, eu tenho também uma história de vida que em nada abona a favor da minha felicidade, e vai daí eu sempre achei que queria era crescer para ser feliz noutro lado. Cresci... cresci fisicamente, leia-se! Eu acho que a minha vida se fez um pouco ao contrário, catano! Agora que penso nisso acho que é por isso que me custa o avançar da idade, porra!... vocês atentem que acabei de ter uma epifania... acabou de descer em mim a luz, camandro!
É que é mesmo isto... tenho que falar com a minha psicóloga sobre este tema. Eu nasci e vivi uma infância como se fosse adulta. Defendi-me, pensei, refugiei-me, protegi, cuidei e escolhi como se fosse adulta... na adolescência, como já tive oportunidade de vos dizer no post anterior, tive uma época de vida muito marcante... um misto entre o meu ser, o meu eu verdadeiro, um sentimento de pertença que nunca havia sentido antes misturado com a criança que habitava em mim mas que nunca o tinha podido ser... um desejo enorme em crescer, ser adulta de verdade, fugir dali daquele sítio que me obrigava a ser infeliz, a ser adulta sem ser independente, a ser a miúda que tomava conta de adultos, a ser a miúda que crescia mas a quem não permitiam crescer, a ser a miúda que queria ser apenas miúda mas que nunca o poderia ser pois isso implicaria ser amada e protegida sem condições e naquele meu espaço isso não existia...
Dou por mim, subitamente com 44 anos... dou por mim a sentir que ainda não fui criança, que ainda não fui suficientemente adolescente, que não estou preparada para ser adulta... só aos 40 anos é que percebi, só aos 40 anos é que pensei: Porra pá, cresceste! Agora és adulta! Agora vais começar o teu processo de envelhecimento...
Como? Como é que eu posso começar um processo de envelhecimento se ainda não fui criança? Se me foi roubada parte da minha adolescência?... Se nunca me foi permitido apenas ser criança e apenas ser adolescente?...
Eu era uma adolescente que quando pisava o risco o fazia de forma controlada... eu não precisava dos ralhetes dos adultos, eu tinha a minha adulta a viver dentro de mim e a controlar tudo o que a minha adolescente fazia... pensado bem, nunca poderia ter corrido mal... a minha adulta não deixaria nunca que algo me acontecesse. Os meus adultos, aqueles que deveriam ter ralhado comigo, que me deveriam ter posto de castigo, que me deveriam ter abraçado e dito: "Vai correr tudo bem", nunca perceberam o que eu estava a fazer, quem eu era, com quem estava, onde estava... apesar de acharem que sim! Uns achavam que controlavam tudo, que eu não pisaria o risco pois eles não deixavam (ahahahahhahahahah!!!!!), que eu era apenas uma rebelde com pouco pensamento válido e lógico na minha cabeça, uma falhada a tentar enfrentar os adultos... outros achavam que eu era espectacular, que tinha ideias maravilhosas, que era responsável e capaz de tomar conta de mim e deles (ui!... tomei tanto, mas tanto conta deles... eu, adolescente, a tomar conta de adultos... mesmo! Na verdadeira acepção da palavra... mandá-los para casa... levá-los ao hospital... mentir por eles no trabalho deles... na verdade não é um "eles" é apenas uma pessoa, um dos meus progenitores... não quero dizer qual... o outro "eles", o primeiro "eles" que referi neste texto, é mesmo um eles... o outro progenitor e o seu cônjuge)...
Estou tal e qual o Benjamim Burton, a viver ao contrário... só tenho mesmo pena de fisicamente o processo não se dar, mas pronto!... dá-se emocionalmente! Nasci adulta, cresci adulta e quando entrei na adolescência, como adulta, não saí de lá! Aos 40, quando percebi "Catano, estás velha adulta!", olhei-me no espelho da alma e este não espelha o que o meu espelho do hall me diz... o do hall diz: estás velha!, o da alma dia: és uma miúda! És uma miúda e precisas daquilo que os miúdos precisam... Dá-se o caso de eu nunca ter tido o que os miúdos precisam... dá-se o caso de já não o ir ter pois já não tenho idade para isso... dá-se o caso de a minha doença auto-imune não ser alheia a tudo isto... dá-se o caso de eu não me sentir feliz por isto!... dá-se o caso de eu ter de resolver esta merda... dá-se o caso de eu não saber se quero resolver ou se quero mudar tudo e integrar, apoiar e amar esta adolescente que vive dentro de mim e que é muitas vezes visitada pela criança que também cá mora...
Os adultos fazem muita merda na vida das crianças, caraças! E os meus adultos fizeram mesmo muita merda na minha vida!
Estar viva é muito fixe! Adoro estar viva! Não quero ser adulta! Ser adulta é uma grande merda. Eu já fui adulta! Não quero mais ser adulta!