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A Marquesa de Marvila

Aqui não se aprende nada... Lêem-se coisas escritas por mim, parvoíces na maioria das vezes mas sempre, sempre verdades absolutas (pelo menos para mim).

Ensino Integrado com Desporto, já!

Hoje apareceu-me na homepage do Sapo este vídeo... como mãe de ginasta, apesar de noutra modalidade gímnica, não pude deixar de o ver e de me comover. Porquê? Perguntam vocês. Eu também faria essa pergunta se não vivesse tão por dentro o que é ser ginasta e ainda mais em Portugal.

Já vos falei diversas vezes sobre a minha ginasta preferida, a aspirante mai'nova (coisa mai'linda de sua mãe!), do orgulho imenso que tenho nela e no esforço hercúleo que ela faz.

A minha filha não é ginasta de alta competição, é apenas ginasta de competição e compete na 1ª divisão, divisão imediatamente abaixo das elites, ou seja, da alta competição. Ser ginasta em Portugal, tal como Filipa Martins (atleta de Alta Competição, atleta de selecção e uma das melhores ginastas portuguesas e a melhor na sua modalidade) diz no seu vídeo, é não ter apoios, é trabalhar muito sem qualquer apoio. Os atletas de alta competição têm alguns privilégios a nível escolar, desde que representem a selecção. Todos os outros ginastas não têm qualquer apoio... zero! E não falo de apoio financeiro, falo do básico. Por exemplo, ensino integrado. Porquê que a música e a dança têm ensino integrado e o desporto não?

A minha filha treina 5 a 6 dias por semana, 3 horas e meia a 4 horas. Todos os anos fazemos rezas e macumbas para que o horário da escola seja minimamente compatível com os treinos. Até agora tem sido. Mas não se justifica que tenhamos (nós e todos os atletas na mesma situação) que fazer figas por um horário compatível com os treinos. Não faz sentido algum. Todos os anos há campeonatos, distritais, nacionais e internacionais, para além de alguns torneios e outras provas que vão tendo ao logo da época. Todos os anos o clube tem de escrever uma carta à direcção da escola (da minha filha e de todos os seus ginastas) a pedir, atentem, a pedir encarecidamente que o atleta possa ser dispensado das aulas por 3 ou 4 dias, sem que tenha falta e que nesses dias não sejam marcados testes. A escola não é obrigada a aceitar este documento. Há escolas que não aceitam e os atletas têm mesmo falta e pode acontecer (já aconteceu a uma colega da minha filha) faltarem a testes. Se houvesse ensino integrado e apoio do Ministério da Educação isto não acontecia.

Os campeonatos são sempre ao Sábado e ao Domingo. Sabem o que é passar 2 dias inteiros dentro de um pavilhão, a treinar e a competir, sair de lá a um Domingo já depois do jantar (isto quando não são fora de Lisboa e chegam lá pelas 2 ou 3 da manhã) e ir para a escola, no dia seguinte, à 8:15h? Se houvesse ensino integrado e apoio do Ministério da Educação isto não acontecia.

As lesões são outra presença assídua na vida de qualquer atleta de competição. A minha filha começou a época em Setembro, tal como as aulas, e já esteve lesionada uma série de semanas, com direito a médico, a ecografia, ligaduras, gelo e repouso.  Resultado, a pedido dos treinadores, tivemos de pedir a compreensão da professora de educação física para que ela não corresse, não fizesse exercícios de impacto, etc... A professora acedeu mas advertiu, não pode ser! Ora, não pode ser, como? Ela é atleta, a ginástica é mais importante para ela do que as aulas de educação física. Em vésperas de campeonatos ela não faz as aulas de educação física para evitar lesões, os professores têm de compreender e ela tem vivido muito a contar com essa compreensão. A professora de Educação Física já lhe disse, só não te dou o 5 porque tu nem sempre fazes as aulas.... não é justo! Se houvesse ensino integrado e apoio do Ministério da Educação isto não acontecia.

Ser atleta de competição é ser julgado pelos colegas de escola, por alguns professores (não todos, atenção! Ela até já teve professores que, sem ela saber, quando estava em campeonatos, puseram o vídeo da prova dela para a turma ver), por familiares... conversas como: - Então mas a ginástica é mais importante do que a escola?; - Olha, faltas às aulas para ir a campeonatos...  e depois as notas?... se vindo de adultos isto já chateia, vindo de colegas de escola, miúdos como ela, é vergonhoso... que raio de valores andamos a passar às crianças?... a ginástica não é mais importante do que a escola, a ginástica é tão importante como a escola. Reitero, se houvesse ensino integrado e apoio do Ministério da Educação isto não acontecia. Não haveria julgamentos, seria uma situação normal.

Ser ginasta de competição é passar férias a treinar bi-diários. Sim, 3 horas e meia de manhã mais 3 horas e meia à tarde, 5 dias da semana e, muitas vezes, sábado mais 4 horas e meia. É ter pouco tempo para fazer T.P.C's e estudar. É ter de ser altamente metódico e organizado. É saber gerir os tempos de lazer. Também é bom ir ao cinema, à praia, passear com os amigos.

Só vos falo da falta de apoio do Ministério da Educação. Devia haver ensino integrado para o desporto, horários mais flexíveis, justificação de faltas para estar nos campeonatos. 

Se vos falar na fortuna que é tudo isto... tudo pago pelos pais. Mensalidades, deslocações, alimentação, estadias, inscrições em provas internacionais... os fatos de competição... senhores, sabem lá o quanto custa um fato de competição... fora o equipamento diário. Mas já nem falo desta questão financeira. Que deveria ser revista e ter apoio do Estado. Fazer ginástica (falo desta modalidade pois é a que conheço) não é para todos. Mesmo que goste, tenha jeito e perfil se não tiver dinheiro... esqueça! Não é justo!

Eu sei que já falei sobre este tema, mas não me canso de falar. Isto tem de mudar!

O ensino está obsoleto?...

Tenho andado vai não vai para escrever sobre este tema, e hoje resolvi que vai! Aqui vai a minha fantástica escrita sobre este tema:

A minha aspirante mai'nova (coisa mai'linda de sua mãe) está no 8º ano, sem nunca ter chumbado mas apresentando algumas dificuldades. Já vos tinha contado que ela andou numa escola privada até ao 6º ano, achávamos nós que tínhamos feito uma boa escolha... não fizemos! Percebemos, tarde de mais, que a escola inflaccionou as notas dela, que a escola camuflou um problema maior e com isso comprometeu todo o futuro dela, já lá vamos...

Com a mudança de escola, saindo da privada para a pública (por motivos que expliquei neste texto aqui) começámos a perceber que o que a nossa filha estudava não correspondia aos resultados escolares. Ou seja, ela estudava mais do que o suficiente para ter boas notas, ela era acompanhada por nós (coisa que nunca concordámos e que nunca fizemos com a mais velha. Achamos que as crianças devem se autónomas e recusamo-nos a estudar com elas mas, neste caso específico, tivemos de o fazer para perceber o que se passava), ela sabia a matéria e trazia notas de 20%, 30% a uma série de disciplinas. Outras, aquelas cujos professores tinham outra forma de ensinar, em que os testes não eram formatados, em que tudo o resto (para além dos testes) é valorizado ela tinha boas notas, boas mesmo! No entanto, terminou o 1ª período com 6 negativas... 6, leram bem!

Nós, que nunca ligámos às notas, que sempre nos preocupámos com aprendizagens em detrimento das notas (não valem porra nenhuma se a matéria não for aprendida. De que serve ter 90% num teste se foi só marrar e no dia seguinte não sabe nada?), que nunca lhes perdoámos os erros ortográficos apesar de não querermos saber se o verbo é pretérito-perfeito-do-indicativo-ó-caraças, o importante é que elas saibam usar e escrever o tal do verbo agora como é que ele se designa?!?!... a sério?!?!... para quê? (e a minha aspirante mai'nova que tem negativa a português não dá erros a escrever nem a falar. sabe que "grama" é uma palavra masculina, que não se diz fostes nem há-des, que diz tenhamos e não tânhamos mas que não sabe as designações, não sabe as regras mas sabe aplicá-las... tem colegas com 5 a Português que em cada 5 palavras dão 3 ou 4 erros... mas sabem as designações todas, regras e o catano... prioridades deste ensino...). Mas dizia eu, nós que nunca nos preocupámos com o tema começámos a ficar com o coração apertadinho, angustiados, tristes e a sentirmos que tínhamos de fazer alguma coisa, de cada vez que a nossa filha recebia um teste e chorava, numa tristeza que não tem explicação... a auto-designar-se de burra... a ser alvo de gozo de colegas e de bocas de alguns professores... e nós a vermos, a sabermos que sim, ela tinha estudado, que sim, ela sabia a matéria...

Optámos por lhe fazer uma avaliação com uma equipa multidisciplinar. E assim foi! Fez 6 avaliações diferentes, com 6 técnicos de especialidades diferentes, tudo pago por nós, claro está! A aspirante mai'nova é inteligente, a nível cognitivo está tudo normal, não tem qualquer tipo de deficiência cognitiva, não tem qualquer tipo de problema emocional, o problema dela é outro... é algo que deveria ter sido detectado pela professora primária e não foi... ela tem um défice no processamento auditivo. E o que é que isso faz? Ora, faz com que ela tenha de ter silêncio absoluto da sala para se conseguir concentrar, faz com que tenha dificuldade em entender conceitos, palavras e frases abstratas, faz com que o mínimo barulho a desvie do assunto principal, faz com que não entenda as perguntas dos testes (se elas forem feitas de outra forma ela entende e sabe a resposta). Pedir à nossa filha que, nas condições que a escola lhe dá, tenha boas notas é o mesmo que pedir a um coxo que corra os 100 metros em tempo recorde.

Levámos o relatório à escola... no ano passado correu bem com a maioria dos professores, ela conseguiu recuperar as notas e passou de ano! Foi a maior alegria da vida dela, nem imaginam a emoção que foi! este ano já levámos o relatório à escola de novo, vamos ver... é que a escola nada faz! Não está preparada para o fazer, dependemos da boa vontade dos professores. Alguns, felizmente, têm-na! Houve um que, mesmo antes do relatório percebeu que as notas não correspondiam ao que ela sabia, falou com ela e ela tentou explicar o que se passava e ele disse-lhe logo que nas suas aulas passaria a estar na primeira fila, que lhe explicaria tudo de forma a que ela percebesse e a chamaria mais vezes ao quadro (costumam correr muito bem as idas dela ao quadro).

Ela é uma miúda que faz os TPC, que não destabiliza as aulas, que se porta bem, que é querida pelos colegas e pelos professores, que se interessa mas que, com este método de ensino, tem dificuldades.

Isto tudo para dizer que o nosso ensino está obsoleto, que não está preparado para as diferentes necessidades de cada indivíduo (curiosa esta palavra, não?), que trata todos por igual e nós não somos todos iguais. Que a nossa filha é uma heroína! 

Segundo os terapeutas, nesta idade já não há muito a fazer ao nível da terapia para melhorar esta questão, há-de resolver-se com o crescimento. A intervenção deveria ter sido feita muito mais cedo, quando ela estava na primária, não foi! Não imaginam a culpa que nós, pais, sentimos... mas segundo os técnicos a escola deveria ter detectado. Há muito que pode ser feito entretanto. Em primeiro lugar, mantê-la na ginástica (todos são unânimes neste ponto. É algo em que ela é boa, onde é feliz e onde não tem obstáculos. Tem desafios, tem objectivos, tem trabalho e adquire uma série de competências que a ajudam), nunca, jamais em tempo algum ralhar com ela por causa das notas, nem a chamar à atenção por isso (a culpa não é dela), motivar a leitura, fazer charadas, contar anedotas e provérbios, estimular o vocabulário (isso sempre fizemos); a escola deve mantê-la na primeira fila, longe de alunos que perturbem as aulas (difícil), o ideal seria numa turma pequena e com alunos que não motivem a distração, ter uma atenção mais individualizada por parte dos professores, os testes não terem a importância que lhes é dada (impossível! 99% dos professores têm os testes como o mais importante na nota final)... há mais, mas não vos quero maçar...

Pergunto, que raio de ensino é este? O que estamos a fazer?... Um ensino igual para todos?!... Não faz sentido, caramba! A minha filha não quer saber da maioria das disciplinas, não percebe para que lhe servem (por muito que tentemos explicar-lhe), ela gosta de ginástica, de actividade física, de ciências... ela precisava de um ensino mais vocacionado, tal como a maioria das crianças.

O que estamos a fazer?