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A Marquesa de Marvila

Aqui não se aprende nada... Lêem-se coisas escritas por mim, parvoíces na maioria das vezes mas sempre, sempre verdades absolutas (pelo menos para mim).

Não! Não é um feliz dia da mulher!

Não me desejem feliz dia da mulher! Não, não é um dia feliz e eu, nem nenhuma mulher, precisa da vossa condescendência.

Este é, para mim, um dia de luto e de luta, não é um dia feliz!

Não precisamos das vossas flores, dos chocolates nem tampouco de promoções. Marcas, a sério?!?... Promoções do dia da mulher!... até quando vão continuar com esta condescendência, a tratar-nos como se fossemos um ser menor que precisa de receber presentes para ficar feliz....

- Ah, elas querem igualdade de salário?!? Eh pá, dá-lhes antes um desconto de 25% em batons e perfumes, assim como assim ficam mais felizes... aumento de salário para quê se podem ter um mega desconto em lingerie, ténis, perfumes, malas e cenas várias?!?... afinal, elas gostam é de compras... fazemos como se faz aos cães, abanamos-lhes com o que gostam à frente do nariz e elas calam-se com essa cena de igualdade salarial!

- Ah, elas querem acabar com a violência doméstica? As violações, o femicídio, o assédio?!?... Eh pá, oferece-lhes flores, chocolates ou assim. Nem imaginas a felicidade das mulheres quando se lhes dá atenção... nunca mais se lembram de direitos fundamentais como respeito, estar viva, etc... elas são assim, contentam-se com uma merda qualquer.

- Ah, elas querem direitos iguais aos dos homens?!... um "Feliz dia Da Mulher" resolve tudo! A seguir sentas-te no sofá enquanto ela faz o jantar, não te esqueças é de lhe levar um bom vinho... 

Não, não me desejem feliz dia da mulher, não me ofereçam flores, chocolates e muito menos descontos! As marcas que me bombardeiam com descontos neste dia ficam logo de parte. Sim, eu tenho mau feitio! E hei-de ter sempre enquanto houver mulher mortas às mãos dos companheiros, enquanto houver diferença salarial, enquanto houver algures no mundo mulheres que não podem votar, que precisam de autorização do marido para respirar, enquanto continuarmos a ser assediadas na rua, a ouvir "bocas" só porque somos mulheres, a sermos postas umas contra as outras (isto é cultural e tem de acabar!!), enquanto houver violação sem punição exemplar, enquanto não pudermos andar na rua tranquilamente, sem medo, enquanto não tivermos as mesmas oportunidades laborais, enquanto continuarmos a ser responsáveis (e culpabilizadas quando não o fazemos) pelas tarefas domésticas e pelos filhos, enquanto houver homens a "ajudar" em casa (uns santos!), enquanto houver meninas obrigadas a casar pelos seus pais, enquanto houver meninas abusadas por familiares...

Não! Este ano de 2021 ainda não é altura para desejar um feliz dia da mulher!

Faltam, neste preciso momento, cerca de 150 anos para as mulheres terem os mesmos direitos dos homens, para atingirmos a igualdade de género! Ainda acham que há motivo para desejarmos um feliz dia da mulher? Fica a reflexão!

Não! Eu não preciso da vossa condescendência!

Ponham-se, por um segundo, no nosso lugar!

Ontem surgiu um vídeo na internet de um directo em que um sujeito, não só assumia, como se regozijava com o facto de ter violado uma rapariga!

Todas as pessoas, decentes, ficaram chocadas! Partilhas na net, nas diversas redes sociais, críticas, choque, entranhas reviradas... eu inclusive!

Depois do choque inicial, apercebi-me, tristemente, que afinal não era um choque. É expectável! Aquilo que o sujeito fez é "normal" numa sociedade como a nossa. Vangloriar-se, em público, não é mais do que se tem feito nos cafés, nos grupos privados de machos, onde algumas mulheres também entram e acham normal, afinal "ela estava a pedi-las"...

Para as mulheres não é novidade este tipo de situações, neste caso levado ao limite que é a violação. Não há mulher no mundo que nunca tenha sido assediada, que nunca tenha tido medo, que não tenha temido pela vida e pela sua dignidade, que nunca tenha sido humilhada, que nunca se tenha sentido incomodada e desconfortável com comentários, piropos, etc.

Quando ainda há quem diga que o feminismo é ser "radical", que o feminismo quer acabar com os homens, que as mulheres têm os mesmos direitos e deveres do que os homens, etc, etc, etc... percebemos que há muitos milhares de quilómetros por percorrer... que vamos continuar a ter medo, que as nossas filhas vão continuar a ter medo e, quiçá, as nossas netas também. Enquanto houver quem considere o feminismo um grupo de loucas (preconceito machista) que quer acabar com os homens, as mulheres continuarão em perigo!

Por acaso um homem saberá o que é ter medo de andar na rua? E não estou a falar de ser assaltado, ser assaltado é um mal menor... é ter medo de que, ao virar da esquina, esteja um sujeito que nos apalpará, que nos perseguirá e nos violará... esse sujeito não tem medo! Esse sujeito sabe que a sociedade o protegerá, que sairá impune ou, quando muito, terá uma pena leve e desagravada, afinal ela estava a pedi-las, vinha de mini-saia, estava sozinha, estava com os copos, ele até nem tem antecedentes, é bom rapaz, bom filho, estudante ou um trabalhador exemplar.... até é casado e tem filhos... terá mesmo violado aquela mulher?... como disse um juíz há uns tempos, "Ninguém a violou! A senhora é feia e ninguém quer violar uma pessoa assim. Está a mentir!" ou o juíz que considerou que a violação de um rapaz a uma rapariga não teria sido grave, afinal ele é bem apessoado, filho de boas famílias, sem atecendentes, estudante universitário, com um futuro brilhante pela frente... saiu em liberdade com uma repreensão ou pena suspensa ou lá o que foi, tendo-se provado que tinha havido violação.

Ser mulher é viver com medo, muito medo! Um medo constante de que algo nos aconteça... um apalpão no metro; um sujeito a masturbar-se no jardim enquanto olha para nós; uma mensagem com a fotografia de uma pila enviada para o nosso telemóvel; um "comia-te toda, oh jeitosa!" gritado do outro lado da rua; um beijo forçado na escola; um "ela é uma vaca, puta, cabra, histérica, etc, etc" dito após um "não"; um grupo de colegas de turma a babarem-se e a proferirem comentários sobre as nossas mamas e os nossos rabos em plena aula de educação física enquanto o professor (e professora, o machismo é transversal) diz: "não ligues, são só rapazes a serem parvos", sem castigo, sem punição; ter uma fotografia nossa, enviada de forma privada, exposta por toda a internet (claro que a culpa foi nossa, não a tivéssemos enviado. Relembro, uma foto privada!); toda a escola, trabalho, bairro (o que for) ficar a saber que fomos para a cama com fulano, somos umas putas (ele é um herói, claro!); estar num trabalho, com outras colegas, e ouvir o cliente dizer "esta é para casar, as outras só servem para levar para a cama" e todos rirem muito; ter colegas a comentar com outros a nossa prestação sexual (sendo verdade ou mentira... ninguém vai acreditar que foi mentira e que aquele elemento nunca nos viu o rabo, quanto mais ter ido para a cama connosco); ouvir um adulto dizer de uma adolescente, "se ela fosse maior de idade marchava!"; ter um tipo que nos persegue, de pila à mostra desde o metro, em plena luz do dia, a proferir ordinarices, quando nós temos 14 anos; levar tareia dos maridos/companheiros e ter de fugir, viver fugida numa casa de acolhimento; sermos violadas, em casa, na rua, numa discoteca, num jardim, apresentar queixa e ser posta em causa? Haver atenuantes?... atenuantes para uma violação??!??!... haverá algum homem que sonhe sequer pelo que uma mulher passa? Saberão o medo que é estacionar o carro à noite, na nossa rua ou noutra perto, depois de um serão a trabalhar, das aulas na faculdade, de um jantar, de casa do nossos pais e ter medo de chegar à porta do prédio?... medo! Pânico!

Dizer que o feminismo é radical é perpetuar tudo isto! O feminismo não quer acabar com os homens, o feminismo quer que as mulheres deixem de ter motivos para terem medo!

Quantos de vocês, homens, já teve medo de ir sozinho ao cinema? De ir jantar fora sozinho? De ir na rua sozinho? De ir à praia sozinho? De viver sozinho? De apanhar um táxi sozinho?

Todos os exemplos que dei acima aconteceram, são reais! Uns passaram-se comigo, outros com pessoas muito próximas, tenho 2 irmãs estão lá situações com as duas em momentos diferentes, passaram-se com as minhas filhas, com amigas... são todas histórias reais, pensem nisso!

Eu já temi pela minha vida, na rua, num táxi, em casa, no trabalho... sempre por causa de homens! Felizmente sempre por homens estranhos, não eram familiares, nem amigos, nem conhecidos. Mas temi pela minha integridade. O maior medo que tive sempre foi o de ser violada! Nunca me passou pela cabeça ser assaltada (apesar de já ter sido) ou assassinada, mas todas estas situações que me fizeram temer pela minha integridade foram sempre de cariz sexual, de abuso. A primeira vez que temi por mim tinha 11 ou 12 anos, na rua, de dia e fui apalpada por um grupo de rapazes mais velhos, uns 5 ou 6, que só pararam quando cheguei à porta de casa e uma vizinha estava à janela e gritou... é traumatizante! É humilhante! Ninguém tem o direito de mexer no corpo de outra pessoa sem autorização! Não é uma brincadeira de miúdos, é abuso! É abuso que é aprendido e normalizado desde sempre. Cabe-nos a nós, sociedade, mudar isso. Não nos calarmos, não normalizarmos e nunca culparmos a vítima. A vítima jamais é culpada de nada!

Neste caso que nos chocou a todos, o individuo assume o que fez, os colegas corroboram, o INEM é chamado, a rapariga é identificada e confirma e o chefe da PSP, a Directora da Instituição onde o individuo vive (ou viveu) dizem que é mentira! Que ele mentiu!... porra! Mas que merda de sociedade é esta?!?!...

O feminismo é preciso, é urgente mudar isto, e precisa de todos nós! Homens e mulheres!

Aos homens peço que se ponham, por um segundo, no nosso lugar e imaginem o que é viver com medo de andar na rua. Medo de ser abusada e violada. Hoje, ou amanhã, quando forem pôr o lixo à noite, pensem que uma mulher tem medo de o fazer.

 

Ps. Qualquer comentário abusivo neste post não será publicado e será denunciado! Vão lá ser machozinhos recalcados para o raio que vos parta... Grata!

Mundo, és um privilegiado!

É feminista! Revolta-se e luta com as armas que tem contra as desigualdades com que se depara diariamente. Lê sobre o tema, aproveita todo e qualquer discurso para se informar. Vê coisas que eu, sendo também feminista, por vezes se me escapam... ou porque estou habituada a que assim seja, ou porque não pensei tão profundamente sobre o assunto. Gosta de pessoas e não gosta de pessoas consoante a sua posição perante este tema tão importante para ela. Não aceita, e bem!, que a mulher tenha de ter "recato", que tenha de pensar na roupa que veste para não ser assediada ou, pior, muito pior, violada. Incomoda-a, visceralmente, que mulheres critiquem mulheres pelo seu aspecto físico, pelas roupas, pelas atitudes... as mulheres têm de apoiar as mulheres.

É contra a violência no namoro e fica transtornada com a normalização de uma relação abusiva... as frases feitas, "se ele tem ciúmes é porque gosta de mim",  "só quem ama é que tem ciúmes" ou "a ex-namorada dele é uma cabra...", etc, etc..., deixam-na "fora dela". Não entende como namorados(as) têm as passwords dos telemóveis dos respectivos, não entende como o início de um namoro pode ser o final de liberdade, privacidade e individualidade. Para ela, o namoro exige respeito, confiança, liberdade, companheirismo, apoio, nunca o contrário!

É a favor do amor!, e o amor tem muitas cores, feitios e formas, desde que seja amor! O amor não vê género, nem raça, nem nacionalidade. O amor apenas é! E é de todas as formas e feitios, desde que respeite as regras do namoro, que seja entre pessoas e consentido. O amor é andar de mãos dadas, lado a lado, sem medos e sem vergonhas. O amor é livre, sempre livre e não há nada nem ninguém que prenda o amor... nem a homofobia, nem as leis, nem as religiões.

Por falar nisso, não gosta de religiões! São castradoras, manipuladoras e trazem ao de cima o pior do ser humano. Mas gosta e respeita a fé! A fé, como o amor, também é livre e dá força, raízes, fazendo-nos conquistar o impossível... ao contrário da religião que não nos permite ser!

Gosta de cor! De diversidade! O cinzento é muito aborrecido... por isso adora pessoas de cores diferentes, de hábitos diferentes, de nacionalidades, credos e culturas diferentes. O mundo é mais gigante e bonito quanto permitirmos que a diversidade se exprima!

Cabelos encaracolados, cabeças rapadas, pelos no buço, nas pernas das meninas, barba por fazer, loura ou morena... cada um é como quer! Não se prende em convenções sociais que dizem que o menino veste azul e a menina rosa; que as meninas têm de fazer a depilação e os meninos não podem chorar; que as meninas não gostam de bola nem os meninos de ballet... nada disso! Lembram-se da diversidade do ponto acima? E da liberdade? E do amor? E do respeito?... pois! Cada um é como é!

Respeita os animas! É vegetariana, não usa produtos testados em animais e revolta-se com os maus tratos aos mesmos. Chora quando os vê sofrer e não imagina a hipótese de os comer... os amigos não são alimento! Não entende como ainda existem espectáculos onde se mal-tratam animais para gáudio humano, que se cacem raposas por diversão... não entende e não há argumento que a faça entender ou aceitar!

Defende o ambiente. Pondera ter ou não filhos... não quer trazer ao mundo mais gente que vá sofrer com o estado do planeta; não quer trazer ao mundo pessoas que vão sobrecarregar o planeta, ainda mais... e também acha que as crianças são chatas!... sim, não é perfeita!  Quer comprar sempre a roupa em segunda mão, compra pouca roupa... não necessita de mais e o planeta agradece. É vegetariana! Não só pelos animais como também pelo planeta.

Ouve as letras das músicas com atenção... pondera se gosta, ouve, vê e apoia determinado artista/actor pelos seus ideais, pelo que é e não só pelo que faz. Deixa de ser fã porque aquele indivíduo abusou de alguém, ou é machista, ou xenófobo.

Segue páginas feministas, LGBT, defensoras do planeta e dos animais. 

Recusa-se a usar uma venda nos olhos e a fingir que o mundo gira sempre da mesma maneira e que a vida segue linda e maravilhosa!... sofre! Sofre imenso por ter valores! Fala constantemente sobre estes temas! Quer compreender! Quer justiça! Quer mudar o mundo!... percebeu que pode mudar o mundo começando por ela mesma. Pratica o que defende e defende o que pratica, com unhas e dentes. 

Ela tem 16 anos!... tem 16 anos mas já é assim desde os 8 anos (talvez mais cedo... com valores muito fortes e sempre sobre a desigualdade e a injustiça)... ela sofre! Ela chora! Ela tem valores e quer justiça! Ela tem 16 anos e é a minha filha mais velha! Ela é o meu orgulho!... e é capaz de ficar mesmo zangada por eu publicar este texto... mas eu vou fazê-lo porque ela é o meu orgulho, é o meu amor e é um ser humano maravilhoso! E o mundo só tem a ganhar por ela existir! 

Mundo, és um privilegiado por teres este ser humano que te habita!

9 razões para Não gostar do regresso às aulas!

Sempre que "pego" aqui no blog com um entusiasmado, "agora é que é! Agora é que eu vou começar a escrever amiúde", acontece alguma coisa...

A rentrée, reentrou tão rápido que não tarda, não tarda estamos de novo no Verão, oh caneco! E eu aqui às cambalhotas com cenas várias para resolver e coiso!...

Pois que se deu o regresso às aulas!... pelo que vi pelas redes sociais, pelos blogs e por conversas várias que vou ouvindo por aí, parece-me que eu sou a única que não vibro com o regresso às aulas, com o ver as crias pelas costas... "ahhhhhh.... tu és daquelas mães melgas que não deixa os putos respirarem fundo sem que aches que estão com falta de ar...", Não sou!!  ... "então és daquelas que dorme com os putos na cama até terem 25 anos, que os há-de levar à faculdade para não se perderem a ir de uma sala à outra e para os professores não lhes ralharem.. já topámos tudo!"..., Não sou!! ... "já sabemos, ainda amamentas as crianças e elas já têm quase 14 e 16 anos, vero?!"..., Chiça penico, deusmalivreeguarde!!!! Cruzes, credo!...

Não sou nada disso! Adoro as minhas filhas, as minhas aspirantes mai'lindas do mundo e até de Marvila, amo-as do coração mas não as quero sempre agarradas a mim!... 

- Então não saltas de alegria, não gritas ao mundo, não postas memes de 5 em 5 minutos para mostrares em como estás feliz por te veres livre das miúdas e regressares à tua vidinha, casa-trabalho-casa, porquê?

Há várias razões para tal!... já que perguntam aqui seguem:

1. Eduquei as miúdas! Tarefa árdua e extenuante mas que vale a pena ao fim de uns anos... faz com que não se tornem seres do demónio e que se saibam comportar... há dias com uma ou duas situações-crise, que dois berros resolvem, quando necessário uma consequência pelo comportamento e pronto! E... atentem bem nisto, são situações que tanto acontecem nas férias como em tempo de aulas;

2. Gosto de estar com elas. Também gosto de estar sem elas, verdade! Mas como não somos gémeas siamesas e elas têm amigos e família, são seres sociais (como aliás todos os seres humanos) e como tal há alturas em que vão passear, dormir a casa de outros elementos que não os seus ricos paizinhos;

3. Não me presto a grandes fretes! Nunca gostei de ir para a praia com elas quando elas eram pequenas... às vezes ia, contrariada e com acordo assinado e registado no notário (ou lá que raio é...) com o Marquês em como a minha única tarefa seria alapar o rabo na toalha e quando muito estender a mão para virar uma forma com areia ao contrário para fazer um micro castelo. Verdade seja dita que ir à praia é um pincel, com ou sem crianças, com crianças é um inferno. E, como férias são férias e eu não queria transformar as minhas num inferno, fazíamos outras coisas. Hoje, elas já vão à praia com os amigos, oh caneco! Já não precisam de mim para fazer castelos nem para lhes botar protector solar (aiiiiiiii!.... momento mais infernal de todo o sempre!);

4. A escola é uma miséria neste país! Ahhhhhhhh!!!!!.... estás-te a habilitar a que venham aí os defensores do ensino tradicional, da palmatória e os do "no meu tempo é que era"... pois, estou! Mas é o que eu penso. Revolta-me a forma como se "ensina" as matérias, o desinteresse de tudo aquilo, o roubar a infância e a adolescência aos putos, o marrar para os testes pois só estes interessam... fico com o coração apertado de cada vez que as minhas filhas têm de se levantar cedo para isto! A mais velha, felizmente está numa escola com um ensino diferente. Não poso ficar feliz pelo regresso às aulas!;

5. A correria do dia-a-dia enlouquece-me! Mas quem é que gosta disto, caraças?... está tudo doido? Acorda de madrugada (antes das 9 da manhã é madrugada!), prepara almoços para levarem para a escola, lanches, nervos logo pela manhã, assina o papel, esqueci-me do material, falta não-sei-o-quê-raisparta!... regressa a casa, mais lanches, T.P.C's a correr, a mai'nova equipa-se, sai de para o treino, regressa noite dentro, fazer jantar, jantar às 22 horas... Ah! Sim, e no meio disto ainda há banhos, algures por aí, e cenas várias que acontecem todos os dias... cansei-me, só de escrever...;

6. A mini-depressão delas no regresso às aulas... a minha mini-depressão no regresso à loucura... o frio que não tarda a chegar.... mas quem é que gosta disto?...

7. Gosto de ter tempo! Gosto que elas tenham tempo! Gosto que leiam, que passeiem, de ir com elas ao cinema, comer um gelado, fazer programas... gosto que estejam de férias com os avós, livres, de chinelo no pé e com os mesmos calções a semana inteira... sem horários, sem neuras, sem stress...

8. E muito mais importante do que tudo... quem me segue já sabe, cá em casa somos 2! 2 pais para tudo! Não é a mãe que faz tudo e o pai fica a assistir. Cá em casa pai e mãe, mãe e pai são indissociáveis e o seu papel e responsabilidade é igual! A criança acordou? (isto quando eram pequenas) Azar! Acordamos todos ou hoje acordo eu, amanhã acordas tu! É preciso levar ao parque? Vamos todos! É preciso dar banho e fazer o jantar? Tu dás banho eu faço o jantar!... e é assim! Pessoas, acalmem-se que hoje já ninguém dá banho às piquenas! Aliás desde os 5 anos (maizómenos) que não precisam de ajuda para o banho!;

9. Não posso terminar sem referir um ponto muito importante: Sempre demos autonomia às duas! Sempre detestei brincar com elas, raramente o fiz... crucifiquem-me!, podia pintar, fazer esculturas em plasticina ou ler um livro... mais do que isso nãaaaa!!!! Isto fez com que elas nunca tenham sido miúdas dependentes. Acordavam e, desde que tivessem paparoca, iam à sua vidinha!

Eh pá, mas os putos também são chatos comó caraças!... Cá em casa sempre dividimos a "chatice" de ter crianças! Engraçado que eu nunca vi os memes de alegria no regresso às aulas com homens... para os pais, é-lhes indiferente o regresso às aulas?!... será na maioria das famílias, infelizmente! A vida das famílias podia ser tão mais feliz se mãe e pai tivessem o mesmo papel! Sempre viajei em trabalho e elas sempre ficaram com o pai... zero preocupações! Nunca deixei roupa separada, recados, post-its e o caneco... eu estar fora ou presente, tirando as saudades, é igual. E isso dá-me uma imensa tranquilidade. Jamais conseguiria viver de outra forma. Ah!!! Mas a culpa é dos homens que nada fazem!... discordo! A responsabilidade é de ambos. Do homem que nada faz e da mulher que assim permite e motiva. Fico doida com as queixas de algumas amigas com o "ele não faz nada em casa!"... f*#d"#-se! Por que tu assim o permites, caraças! Se o meu marido fizesse tudo cá em casa eu também não ia mexer uma palha, caneco! Mas os homens são o quê?... têm uma falhinha ao nível da inteligência que não lhes permite serem pais, dar banho, vestir os putos, por a louça na máquina, varrer, estender roupa, aspirar, etc...

Posto isto, vivásférias!!!!

Sou uma mulher à moda antiga

Eu cá sou uma verdadeira mãe de família, assim no verdadeiro termo da palavra... uma mulher à moda antiga, mesmo! Uma mulher com M grande!!!

Fui educada pela minha querida avó, pessoa que se não tivesse falecido, teria hoje 95 anos. Mulher com um M maior do que o meu, que começou a trabalhar numa fábrica aos 10 anos e por lá trabalhou toda a vida, mesmo após casada, mesmo após ter sido mãe e de ter pedido a sua filha ainda criança, mesmo após ter sido mãe pela segunda vez, mesmo após ter tido uma neta que se lhe alapou às saias mal nasceu e que com ela ia para a fábrica, bebé pequena, miúda se fez naquela fábrica, mesmo após o meu avô ter morrido e com ele ela ter desejado ir... só deixou a fábrica pela saúde que se lhe faltava. Mas não largou a neta, euzinha, e a ela se dedicou dia e noite até morrer.

Vivi com esta Mulher desde que nasci até aos meus 21 anos, quando ela decidiu que estava na hora de ir ter com a sua filha e com o seu marido. A ela devo tudo o que sou, tudo o que sei mas, principalmente a mulher que sou.

Ai caneco, tu és a mulher que qualquer macho gostaria de ter, vero?... Hummmm.... depende!.... se for macho que goste de fazer tarefas domésticas, ir ao super-mercado, beber umas minis comigo e um belo vinho branco, que goste de partilhar os tremoços e as azeitonas, que considere a tarefa de dar banho, biberão, mudar fraldas como parte integrante de ser pai, então sim! Sou mesmo um sonho de mulher para qualquer macho!...

Sou uma mulher à moda antiga, pelo menos à moda que a minha avózinha me ensinou! Sempre, mas sempre me ensinou a ser independente: "Ai, filha, não há nada pior do que dependeres de um homem!", sábias palavras, caneco!, a estudar, a ler (sim, a minha avó era mulher que lia, apesar de apenas ter a 4ª classe não dava erros e era culta), a ver telejornais, a ler jornais.... lembro-me, com especial orgulho, do fascínio que eu sentia quando a via a ler o jornal (coisa que fazia todos os dias), ela era a única avó que eu conhecia que lia jornais, que discutia política e futebol com os homens da família. Sportinguista dos 4 costados, Orientalista de coração e bairro (falei sobre isto no Instagram... quem não me segue no Instagram é um ovo podre!!! Não sei se já vos tinha dito isto.), sabia os nomes dos jogadores, presidentes, directores, discutia com o meu pai as estratégias do presidente, as táticas do futebol... e eu a ouvi-la fascinada! Claro que sou do Sporting desde nascença... acho que ela me teria trocado por outra lá na maternidade se eu não fosse... ninguém iria dar por isso, claro!

A minha avó chateava-se comigo para eu estudar, "vá, que é para não ires parar a uma fábrica como eu! Uma mulher sem estudos não é nada!... tens de ler, tens de saber os rios todos de Portugal, os caminhos de ferro, serras, Distritos, onde e como nasceu Portugal, presidentes, primeiro-ministros, tudo!" Matemática? "Importantíssimo, minha filha! Quem é que te vai fazer as contas?".... e assim fiz! Estudei, com alguma preguiça é certo, mas licenciei-me!... isso ela já não viu, mas morreu a saber que eu nunca tinha chumbado e que se quisesse era boa aluna! Morreu a saber que ler era, para mim, a melhor coisa do mundo! Morreu, com a certeza, de que eu não dependeria de nenhum homem... (o meu pai não conta, vale?)

A minha avó ensinou-me a ser mulher! Nunca me ensinou a estrelar um ovo, nem a aspirar, passar a ferro, limpar... nunca! Levava-me o pequeno-almoço à cama, sempre! Enquanto as forças lhe permitiram, ela acordava-me sempre com o pequeno-almoço e beijinhos! Tão bom!!!!

Nunca adorou ir ao cabeleireiro, tal como eu!, mas andava arranjada, pelo menos enquanto as forças lho permitiam! E dizia-me: "Filha, as pessoas têm de ter brio! Têm de estar limpas e arranjadas! Tu nunca te interesses por um homem porco e que não tenha brio em si!".

Não me ensinou a costurar, também não era coisa que fizesse, não me ensinou a cuidar de uma casa (para ela era óbvio que uma casa tem de se manter minimamente limpa), não me ensinou a bordar, mas ensinou-me a ouvir música, não me ensinou a pôr-me bonita para os outros mas sim para mim, não me ensinou a brincar com bonecas mas ensinou-me a saltar à corda e a jogar ao elástico... aliás, eu nunca adorei brincar com bonecas mas delirava com os carrinhos que ela tinha guardado do meu pai... E ela dizia-me, "filha, não faças como eu... tu tira a carta de condução!". E tirei, assim que tive a idade legal para o fazer... ela viu, e ela andou de carro comigo, e eu levava-a ao médico, a passear, e ela dizia: "Vai mais devagar... não me enerves! Da próxima vez não venho contigo!"...

Ela não me ensinou a cozinhar, nem a lavar roupa, nem a esfregar o chão e dizia-me: "Filha, tu arranja um homem que goste de ti e não faça de ti criada! Tu põe os olhos no teu padrinho, o homem lava, passa, cozinha, faz tudo tal como a tua madrinha! Se o teu avô fosse vivo ele não me iria deixar estar aqui a cozinhar e a esfregar o chão (coisa que ela fazia de joelhos no chão, balde, água e sabão... pela casa toda! Eu ajudava-a, mas ela nunca queria... dizia sempre: Está quieta, só me atrapalhas!)".

A minha avó era uma mulher com M grande e fez de mim uma mulher à moda antiga! Educada por ela, uma mulher antiga, com regras antigas, baseada na sua educação antiga!

Hoje eu sei cozinhar, aprendi sozinha e muitas vezes lhe liguei (de casa da minha mãe, quando lá estava) a perguntar como se fazia isto ou aquilo. Hoje sei lavar roupa (ou melhor a máquina sabe), sei ir ao super-mercado, sei limpar o pó, aspirar e até fazer bolos! Casei com um homem com brio, asseado e que faz tanto ou mais do que eu nesta casa. Temos os dois as mesmas responsabilidades cá em casa! Que gosta de mim e do qual não dependo! Ela iria ter orgulho em mim!

Obrigada avó por fazeres de mim mulher!